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Abraham Lincoln está na moda. O presidente dos Estados Unidos que venceu a Guerra de Secessão e foi assassinado enquanto estava em um teatro é a estrela de dois filmes que ainda serão lançados: uma cinebiografia dirigida por Steven Spielberg ainda em produção e o blockbuster de ação “Abraham Lincoln, Caçador de Vampiros”, com título auto-explicativo. Este “Conspiração Americana”, entretanto, foca em um período não da vida do presidente, mas da sua morte.
Dirigido por Robert Redford, o filme começa de forma interessante, apresentando a empolgação do Norte com a vitória na Guerra e como os sonhos de uma nação unificada e próspera são ameaçados pelo assassinato de Lincoln. A partir daí tem início a caça pelos responsáveis pelo crime e o filme aparenta ser uma espécie de “JFK – A Pergunta que Não Quer Calar”, tentando compreender a conspiração que levou John Wilkes Booth a atirar no presidente. Mas o interessante caminho é logo abandonado para “Conspiração Americana” se transformar em um típico drama de tribunal.
O advogado Frederick Aiken (McAvoy) lutou pelos exércitos do Norte e era fiel a Lincoln, mas é levado a defender em um julgamento ninguém menos que Mary Surratt (Wright), mãe de um dos conspiradores. Assim está estabelecida a dinâmica dramática do filme: um advogado que não acredita em sua cliente, mas que aos poucos em suas investigações vai descobrindo um lado oculto da história e transformando suas próprias crenças.
Redford consegue criar esta dinâmica de forma tensa, chegando a inverter os papéis e colocando Aiken como alvo de antipatia enquanto Surratt cresce como alvo de pena. E McAvoy e Wright apresentam interpretações contidas e baseadas em olhares (apesar do ator sair um pouco do tom em uma ou outra cena mais dramática), exibindo uma desconfiança mútua que enriquece muito a narrativa.
Mas o problema é que Redford não consegue fugir do mais do mesmo dos dramas de tribunal, apresentando cenas arrastadas exatamente quando o filme deveria se tornar mais dinâmico e falhando em provocar uma identificação mais direta dos personagens com o público. Pois a verdade é que “Conspiração Americana” é um filme melancólico, que trata os acontecimentos da época como o momento em que os Estados Unidos perderam os ideais de sua fundação e o pessimismo visto na tela pode ser amargo demais para fazer o espectador entrar na história.
Claramente elaborado como um ataque às decisões políticas do governo Bush, o filme utiliza as decisões do governo da época para nos fazer questionar os rumos que os Estados Unidos tomaram nos últimos anos. Há uma raiva e um sentimento de desolação que perpassa toda a narrativa, resultando em algo interessante, mas por vezes perdido. “Conspiração Americana” é como um discurso repleto de boas ideias, mas que precisava de um texto melhor elaborado e um orador mais carismático.