A semana que se passou foi, digamos, peculiar. Isso porque a maioria dos destaques parecem saídos de um episódio de “Fringe”, mostrando versões alternativas de personagens familiares.
A melhor edição da semana foi, sem sombra de dúvida, “Action Comics #9”, onde o roteirista cult Grant Morrison tira uma folguinha de seu artista titular para narrar, com a ajuda do ótimo Gene Há, as aventuras de uma versão alternativa do Superman: o presidente negro dos E.U.A. Calvin Ellis. O vilão da história é ainda uma outra versão extradimensional do Homem de Aço: um ser ficcional transformado em realidade pela crença e vontade das pessoas, mas deturpado pela manipulação marqueteira corporativa – uma alfinetada nada discreta à própria DC Comics, que tratou muito mal os criadores da versão original do herói. Apesar de ser uma ótima aventura isolada, ainda fica aquela sensação de encheção de linguiça acontecendo só pra dar ao artista titular tempo de voltar ao cronograma.
Outro destaque, ainda na DC, foi a estreia da nova leva de títulos do “novo universo”. Um deles é “Earth 2 #1”, que também narra histórias em uma versão alternativa do Universo DC. Aqui os heróis da Terra foram todos mortos no combate contra as hordas de Apokolips, e o mundo só foi salvo graças ao sacrifício da “trindade” formada por Superman, Batman e Mulher-Maravilha. Após o desastre, entretanto, uma nova geração começa a surgir: somos apresentados ao magnata das telecomunicações Alan Scott e ao universitário perdedor Jay Garrick, que servem mais como versões “Ultimate” dos personagens clássicos da Sociedade da Justiça da América. Apesar de ser uma revista belamente ilustrada, os fãs da SJA vão chiar, porque a graça da equipe estava justamente na sua longa história e nas diferentes “gerações” assumindo os mantos de seus predecessores. Aqui o roteirista James Robinson joga fora mais de 60 anos de continuidade para criar uma versão mais moderna e descolada dos protagonistas, o que leva a crer que a DC não quer mais saber de super-heróis com mais de 30 anos.
Por fim, não podemos deixar de notar também a estreia do novelista China Mieville nos roteiros de HQs com o lançamento de “Dial H #1”. A reinterpretação do clássico personagem que usa um disco telefônico mágico para se transformar em um super-herói diferente cada vez que disca “H.E.R.O.” ganha aqui uma repaginada no estilo Vertigo: o mocinho é um desempregado, deprimido e obeso que encontra uma antiga cabine telefônica que o transforma em variados seres superpoderosos – numa referência esperta à versão clássica do Superman, que trocava para sua identidade secreta em uma cabine semelhante. O conceito, que inspirou o desenho infantil Bem 10, se transforma sob a pena de Mieville em algo bizarro e perturbador; e se a premissa não é exatamente original, pelo menos há alguns detalhes que surpreendem: por exemplo, os heróis incorporados pelo protagonista parecem refletir algo da sua personalidade e estado de espírito. Seu vício por cigarros gera um ser de fuligem e fumaça chamado “Boy Chimney” (Garoto Chaminé), e sua depressão se manifesta sob a forma de um Superman emo chamado “Captain Lachrymose” (Capitão Lacrimejante)…