Cloud Nothings – Attack On Memory


Nossa avaliação

Não ouvi o primeiro e auto-intitulado álbum do Cloud Nothings, então abdicarei de me referir à banda utilizando um largo escopo. Como admirador incondicional do produtor Steve Albini (Steve, eu sei que você só produziu aquele disco do Bush por dinheiro) e espiador ocasional (envergonhado) de listinhas de melhores do ano – que agora já pintam em julho –, topei com esse “Attack On Memory”, com a casual indiferença de quem não anda acreditando muito em grandiosidades na música pop contemporânea.

Não me surpreendi. Não há porta da percepção em “Attack On Memory”. Mas há uma saudável esquizofrenia pairando sobre essa garageira/ló-fi.

Os quatro rapazes parecem ter encontrado o EQUILÍBRIO, aquela entidade mágica e arredia perseguida por todos os roqueiros que nasceram a partir de 1980. Essa manifestação divina permite que uma faixa como “Wasted Days”, que poderia ter sido uma música simpática de três minutos, se torne um COLOSSO de nove. Nocaute técnico e incontestável da paciência sobre a urgência, sem precisar de acréscimo de harpas ou cosplay de Dream Theater. A audição de “Wasted Days” deveria estabelecer um marco na cabeça de todo music freak: é como se todas aquelas músicas curtas que a gente gosta, que poderiam durar todo o tempo do mundo – ou, ao menos, a duração do trajeto casa/trabalho – se tornassem completas, plenas, devidamente satisfatórias. Director’s cut, enfim.

“Wasted Days”, numa edição em vinil de um mundo primoroso, seria o lado A. Depois, viriam as outras sete músicas, que perfazem pouco mais de 24 minutos, para a alegria dos arqui-inimigos do suplício dos discos inteiros – é dessa esquizofrenia que estou falando. “No Future/No Past” e “Wasted Days” são as primeiras. Austeras e cadenciadas. “Fall In”, de andamento veloz e com backing vocals em falsete no refrão, quebra o cortejo fúnebre, liderando a procissão que segue com “Stay Useless” e “Separation”.

O momento mais perturbador é o fechamento, com “Cut You”. Em ritmo pululante, quase bubblegum, Dylan Baldi implora o retorno da alma gêmea, já que ele não pode viver sem alguém para danificar. As letras curtas e negativistas certamente já devem ter sido comparadas às lamúrias do (na melhor das hipóteses) Embrace ou Taking Back Sunday (na pior). Com escritos mais inspirados, “Attack On Memory” seria covardia.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

  • A gente
  • Home
  • Retro
  • Homeopatia
  • Overdose
  • Plantão
  • Receituário
  • Ressonância
  • Sem categoria
  • 2022
  • 2021
  • 2020
  • 2019
  • 2018
  • 2017
  • 2016
  • 2015
  • 2014
  • 2013
  • 2012
  • 2011