Side Effects (2013) | |
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Direção: Steven Soderbergh Elenco: Rooney Mara, Carmen Pelaez, Marin Ireland, Channing Tatum |
“Terapia de Risco” abre e fecha mostrando vários prédios em conjunto, já tentando definir um dos temas-base do filme: a solidão e individualização cada vez maior da sociedade que levariam a um estado depressivo muitas vezes provocado pela cultura do cada um por si. Mas a câmera de Steven Soderbergh enquadra estas construções com suas pequenas janelas de forma que lembram aqueles gigantescos armários de farmácias lotados de cartelas de remédios. Está aí o outro tema-base do longa: a crítica à indústria farmacêutica e sua relação com médicos na valorização de drogas que prometem resolver todos os problemas, inclusive restabelecer a alegria perdida.
Emily (Mara) reencontra o marido (Tatum) que passou quatro anos na prisão e tenta recuperar a vida a dois ao mesmo tempo em que luta contra uma profunda melancolia e tentativas de suicídio. Atendida por um psiquiatra (Law), ela começa a tomar uma pílula que promete resolver seus problemas, mas com efeitos colaterais imprevisíveis. Esta premissa é só a superfície do roteiro de Scott Z. Burns que começa como drama familiar, vira filme de tribunal e mistério e finalmente se estabelece como thriller com pitadas sexuais. A direção de Soderbergh, com seus já característicos filtros de cor para separar bem ambientes e estados de espírito, segura a série de reviravoltas com certa eficácia, mas não dá conta de tornar críveis tantos twists e coincidências.
Chegando a lembrar de certa forma o cult-trash-canastra-sexy “Garotas Selvagens”, “Terapia de Risco” abandona o excelente início em que expõe os meandros de uma indústria que lucra com a dor para se concentrar em um suspense convencional que poderia passar em qualquer Supercine da vida. O bom elenco dá conta do recado, mas assim como no recente “Em Transe” (e também em “Magic Mike”), o que se vê é diretor demais para história de menos.
É um filme que diverte, consegue prender a atenção e possui alguns momentos de segurar a respiração. A brincadeira de Soderbergh com diferentes gêneros é interessante e em certa medida funciona. É uma pena que as coisas desandem um pouco ao final e a complexidade proposta se perca, apesar de manter – por outro foco – a crítica ao individualismo e à ganância desenfreada de uma América em crise (financeira e de identidade) após perder parte de seus privilégios. Com o perdão do trocadilho, trata-se uma obra que, assim como as drogas do filme, entrega mais efeitos colaterais do que os benefícios que oferecia no início. Mas vale a pena provar.