Pilulista 2013 – as séries


Nossa avaliação

Na maior parte do tempo, a vida é um vazio sem sentido de acordar todos os dias para pagar contas e pensar na hora em que se vai poder voltar para a cama de novo. Por isso, nós assistimos a séries. Nelas, as pessoas traficam drogas, fazem descobertas pioneiras, vivem grandes aventuras, se arriscam no desconhecido, materializam suas crises existenciais em tramas complexas e inesperadas.

Nos seriados, as pessoas sempre sabem o que dizer, na hora certa, no timing perfeito e com ressonância universal. Quando alguém morre, há um senso poético e um significado maior por trás da dor. Esperar uma semana, um mês, seis meses, por um novo episódio faz o dia a dia modorrento ter algum sentido.

Séries preenchem alguma parte do nosso quebra-cabeça emocional com uma peça que não existe em outro lugar. É por isso que a atual fase de ouro da televisão é responsável por nove entre dez bate-papos na hora do cafezinho no trabalho. Assistir e compartilhar seriados é uma das poucas experiências capazes de criar um senso real de comunidade em uma era de sociabilidade virtual.

O Pílula Pop não podia deixar o fenômeno passar em branco e convidou nossos amigos a compartilharem seu top 5 de séries em 2013. Sete deles aceitaram nosso convite e o resultado é a lista ai embaixo. Se o primeiro lugar se manteve previsível e disparado desde o início, as outras quatro posições foram bem mais disputadas – e é evidência clara da atual qualidade do meio que shows como “House of Cards”, “The Americans” e “Bates Motel” acabaram ficando de fora.

Mas a mistura de duas novas séries com três pesos pesados é uma boa amostra do porquê a gente prefere falar de seriados do que das nossas próprias vidas.

5 Mad Men (6ª temporada)

O que começou como mais uma temporada de “Mad Men” – Don traindo a esposa, enchendo a cara, sendo um babaca na agência e salvando tudo no final com um pitch genial – acabou sendo um dos mergulhos mais contundentes na grande questão “Quem é Don Draper?”. O sexto ano da série de Matthew Weiner teve um início devagar, com episódios que não pareciam trazer nada de novo – e Megan continua sendo a pior personagem que o show já teve. Mas a chegada de Bob Benson, Betty se transformando na personagem mais autoconsciente e centrada do seriado, o surreal episódio lisérgico “The Crash” e a porrada em três tempos dos episódios finais – “Favors”, “The Quality of Mercy” e “In Care of” – mostraram por que “Mad Men” vai entrar para a história da TV como uma das séries mais bem escritas e atuadas de todos os tempos. O confronto entre Don e Peggy após ele quase revelar o caso dela com Ted e o pitch dele para a Hershey (acima) estão entre os grandes momentos do ano no gênero.

4 Masters of Sex (1ª temporada)

Eis uma prova de que na TV, assim como no cinema, nada se cria, tudo se copia. Ao contrário da sétima arte, porém, aqui pelo menos se copia o que é bom. “Masters of Sex” é o novo “Mad Men”: Bill Masters (Michael Sheen) é Don Draper; Virginia Johnson (Lizzy Caplan) é Peggy Olson; Ethan Haas (Nicholas D’Agosto) é Pete Campbell; Libby Masters (Caitlin Fitzgerald) é Betty Draper… mas se na série de Weiner, as relações entre os personagens são apenas desculpas para um mergulho na psique de cada um, no seriado de Michelle Ashford elas são o foco e o material de tessitura da trama. Baseado no livro que conta a história real de William Masters e Virginia Johnson, pioneiros no estudo da sexualidade humana nos EUA dos anos 50, o seriado aborda a velha linha divisória entre sexo e amor – só que entre personagens que não têm a mínima consciência de sua própria sexualidade e, consequentemente, apenas acham que entendem a complexidade do que é o amor. Esse conflito é estabelecido pela dupla de protagonistas – um médico que quer estudar a ciência do sexo, mas não consegue estabelecer ou entender conexões emocionais, e uma mulher sexualmente independente e a frente do seu tempo. Mas é nos coadjuvantes que “Masters of Sex” desenvolve a complexidade de seu tema: como, respectivamente, uma esposa que quer ter um filho para suprir o amor que não tem com Masters e uma mulher gradualmente descobrindo a homossexualidade do marido, Caitlin Fitzgerald e Allison Janney são disparados as MVP da série e vão partir seu coração de novo e de novo e de novo. “Masters of Sex” estreou com uma daquelas temporadas em que os 13 episódios são excelentes ou ótimos, com roteiros e atuações impecáveis – e se você ainda não descobriu o seriado, não perca tempo.

3 Orange is the new black (1ª temporada)

“It’s just like the Hamptons, only horrible”. O maior mérito de “Orange is the new black” é que o show é tão divertido e bem escrito que, em certos momentos, você tem vontade de ir para a prisão feminina porque as intrigas colegiais do dia a dia das detentas são super divertidas e o local parece ser uma ótima chance de descobrir quem você realmente é. Cinco minutos depois, algo terrível acontece e você pensa duas vezes. Esse equilíbrio dinâmico entre comédia e crônica de dramas reais é o segredo do sucesso da produção original da Netflix, que adapta o livro autobiográfico de Piper Kerman, a jovem nova-iorquina que foi para a prisão após carregar uma mala com dinheiro de drogas para a namorada. A qualidade dos roteiros de Jenji Kohan (“Weeds”) e cia. é tamanha que há momentos em que você realmente sente pena de uma protagonista egocêntrica, esnobe e sem o mínimo de noção de como o mundo funciona fora de seu universo branco e classe média alta. Mas “Orange is the new black” pertence (e triunfa) a seu espetacular elenco de coadjuvantes. Formado por atrizes tão desconhecidas quanto talentosas, é ele que faz de “Orange is the new black” algo que nunca se viu antes: uma série sobre mulheres – negras, hispânicas, pobres, que não obedecem ao modelo de beleza da Tyra Banks – em histórias que não envolvem conquistar um homem, falar de homens ou servir a homens. É engraçado, é surpreendente e é algo que você nunca veria no cinema.

2 Game of thrones (3ª temporada)

Três palavras: Rains of Castamere. Ou duas: red wedding. Elas, e elas sozinhas, explicam por que a terceira temporada de “Game of Thrones” leva nossa medalha de prata em 2013. O ano teve a Khaleesi sambando na cara da sociedade escravocrata com seus dragões, a Condessa viúva matriarca Tyrell dizendo que o neto engole espadas, mas pelo menos não come a irmã, e Jamie Lannister se tornando um ser mínima(mas bem mínima)mente empático. Mas foi o penúltimo episódio e seu massacre que justificaram duas temporadas quase inteiras de episódios pulando entre 19 mil linhas narrativas que não chegavam a lugar nenhum. Depois de “Rains of Castamere”, pessoas não conseguiram dormir. Algumas pararam de comer. Outras perderam a vontade de viver. 2013 foi dividido entre A.R.W (antes do red wedding) e D.R.W. (depois do red wedding). O episódio foi “Game of Thrones” voltando a ser o que havia prometido na primeira temporada. Que continue assim.

1 Breaking Bad (5ª temporada – parte II)

Sobrou na mão de Vince Gilligan e sua equipe o pepino da responsabilidade de entregar a todos um desfecho à altura para uma série que conseguiu o raro feito de ser um sucesso de público e crítica. Bertolucci já declarou sua decepção com Hollywood e contrapôs seu argumento com a admiração por produções televisivas, em especial “Breaking Bad”, “Mad Men” e “The Americans”. Sir Anthony Hopkins rasgou seda dizendo que a performance de Bryan Cranston foi a melhor que ele já viu na vida. Estendeu também a toda a equipe os parabéns e comparou a produção a uma ótima peça jacobiana, shakespeareana ou tragédia grega. Não é exagero.

Há muito de Walter White em Vince Gilligan. O autor, cujo grande feito na carreira foi escrever alguns episódios para “Arquivo X” (quase uma Grey Matter na vida de Gilligan, já que Chris Carter colhia todos os louros), estava desempregado. Enveredando-se em um campo totalmente distinto de seus trabalhos anteriores, ele começou a fabricar uma produção como nada que havia no mercado. Não se contentou com menos do que a perfeição e conseguiu, a cada temporada, distribuir para uma legião cada vez maior de fãs/viciados um lote mais puro do que o anterior. Seus últimos episódios mantêm a qualidade do produto e mostram o ponto mais baixo da decadência moral e legal do protagonista. A tensão da incerteza de saber como a história vai terminar se contrapõe à certeza de que o fim se aproxima. E com ele, o vazio deixado pela série. Existe vida após “Breaking Bad”? É possível se satisfazer com séries irregulares, com temporadas que se alternam entre boas e fracas? (Fernando Guerra)

Leia os votos individuais de cada um dos nossos participantes aqui.


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