Duas coisas precisam ser ditas neste recap antes de mais nada. A primeira é que 80% do que saiu da boca de Patrick neste episódio poderia perfeitamente ter saído da minha. O que faz de “Looking” esse bicho estranho e assustador que eu ainda não consigo compreender totalmente. E a segunda é que, se você gostou minimamente do capítulo, PRECISA assistir a “Weekend”, o filme do diretor e roteirista do episódio, Andrew Haigh, que serviu claramente de inspiração para o idílio amoroso de Richie e Patrick.
Assim como no longa, grande parte da investigação temática de “Looking” gira em torno da intimidade. Essa entidade enigmática, especialmente complicada nas relações entre gays, que muito frequentemente fazem sexo com alguém antes mesmo de saber seu sobrenome.
Patrick acorda no apartamento de Richie. Ele toma banho e, como o relacionamento dos dois ainda não chegou no ponto da escova na casa do outro, escova os dentes com o dedo. Atire a primeira pedra quem nunca (apesar de eu ter ficado obcecado com a ideia de que era o mesmo dedo com que ele havia esfregado a bunda segundos antes, o que não me pareceu muito higiênico). Eles iniciam um sexo matinal. Patrick tem que trabalhar. Mas o sexo é bom. E ele volta.
O protagonista, em “Looking for the future”, tem a pele e o sorriso descarado de quem está transando. Muito. E bem. Mas Haigh sabe que a(s) chave(s) para a intimidade estão muito além do sexo. E é por isso que Richie só vai entendendo por que Patrick não quer ser passivo ao longo do episódio, que sintetiza perfeitamente aquele momento mágico de um relacionamento em que um quer intensamente penetrar o outro e a paixão e a excitação do novo permitem que isso aconteça gradual e naturalmente – como os diálogos e a direção de Haigh.
É um capítulo para aprendermos mais sobre Patrick. Que sua neura em querer parecer “normal” vem da mãe. Que ele compara sua vida com a da irmã heterossexual, aka “padrão”. Que ele só conseguiu ficar com um cara pela primeira vez ao sair de seu estado-natal. Que ele acha que é menos gay por não dar a bunda. E que ele se identifica mais com a insegurança de Ross do que com a liberdade imprevisível de Rachel.
Duas coisas a gente já sabia: que ele não gosta de silêncio (duh). E que ele é exageradamente egocêntrico. Depois que Richie pergunta sobre a primeira vez dele, rola um silêncio porque o protagonista devia devolver a questão. Mas não faz. E quando Richie conta sobre uma cerimônia que sua avó realiza com ovos (argh) para prever o futuro, Patrick consegue desviar o assunto do possível câncer do namorado para ele mesmo – que quer, depois não quer, fazer uma “consulta”.
O simbolismo da desistência do personagem, contudo, é muito poético. Sutilmente, o episódio mostra belas imagens que representam a vastidão prenhe e inescrutável do futuro: o espaço no planetário, o mar aberto no mirante/píer/praia… E a única coisa que passa pela cabeça de alguém (principalmente um neurótico como Patrick) no inicio de um relacionamento é: será que vai dar certo? Mas se nos fosse oferecida a resposta, é muito provável que a gente não gostaria de saber. Especialmente no momento tão gostoso de uma relação como o que Patrick e Richie estão vivendo.
E… a série, como fica? Bem, esse episódio deixou bem claro que Andrew Haigh, com o auxílio de sua equipe, continua aqui as investigações temáticas de seu longa. Mas TV é um meio diferente. E as histórias que o seriado está construindo (ou não) para alicerçar essas questões não têm sido sólidas o bastante. “Looking” precisa de colocar mais em jogo. Precisa de arriscar mais. A série tem estilo de sobra. Falta conteúdo. Como eu me identifico profundamente com o ponto de vista de Haigh, espero que ele consiga resolver isso a tempo de salvar seu programa.
No próximo episódio: Agustín joga um pouco bastante areia no amorzinho todo dessa semana.