Êxodo: Deuses e Reis


Nossa avaliação
Exodus: Gods and Kings (2014)
Exodus: Gods and Kings poster Direção: Ridley Scott
Elenco: Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Aaron Paul


Se em “Blade Runner” Ridley Scott pegava emprestado elementos do cinema noir para sua ficção científica, em “Êxodo” o diretor bebe na fonte do western. Na conhecida história do menino nascido escravo que é criado como príncipe do Egito e com a ajuda de deus liberta seu povo, Moisés é o justiceiro vingador e seu nêmeses Ramsés o governante que precisa ser derrotado.

O duelo não será com pistolas ao pôr do sol, mas com bigas no meio do Mar Vermelho, enquanto a grandiosa paisagem da antiguidade substitui os cânions como exemplo não mais da pequenez do homem diante da natureza, mas sim diante de uma força superior. Christian (olha só a coincidência do nome…) Bale já foi o Batman e Scott acerta ao escalar um ator cujo rosto heróico é automaticamente reconhecido, pois ele possui um lado sombrio que é também importante para a ambivalência que o personagem pretende apresentar.

Pois este Moisés trocou o cajado de pastor pela espada de guerreiro, e não apenas questiona seu deus, como passa a conversar com ele só depois de bater a cabeça numa pedra. Se por um momento “Êxodo” parece ir para o caminho interessante de nos fazer duvidar dos fatos bíblicos, por outro as pragas estão lá (mesmo que cientificamente explicadas, uma boa novidade do filme), e o sobrenatural acaba por mostrar toda a sua força. Aqui e ali há paralelos políticos interessantes com a atual situação Israel-Palestina, especialmente em relação à inversão de poder entre dominantes e dominados. Mas Scott parece mesmo mais interessado é no duelo entre o bem e o mal, e é ai que “Êxodo” acaba por perder sua força.

Joel Edgerton não possui a imponência que se espera de um Ramsés, mas faz um bom trabalho com o que o roteiro lhe oferece. O problema é que mais uma vez seu faraó repete a vilania sem muita justificativa (apesar de mais ponderado do que Yul Brynner em “Os 10 Mandamentos”) deste tipo de épico, e o filme perde a oportunidade de se aprofundar mais na humanidade de Ramsés. Sabemos desde a primeira cena que é para Moisés que devemos torcer e ao faraó cabe apenas ser a escada para os feitos divinos.

O elenco é estrelado com muita gente desperdiçada (Sigourney Weaver se piscar perdeu) e as críticas sobre os papéis importantes dados ao elenco branco são válidas, sendo o caso mais gritante a escalação de Aaron Paul como o escravo de maior destaque. Mas como diversão “Êxodo: Deuses e Reis” funciona no embate luz e trevas que promete, com algumas sequências arrebatadoras da ira divina e com seu justiceiro de poucas palavras que retorna à sua terra de origem para vingar sua família (ou povo). Assim é uma pena que a produção apenas arranhe na tentativa de humanização destes personagens, preferindo contar mais uma vez a mesma história já vista antes. Talvez o Sr. Scott, como é do seu feitio, nos reserve uma “versão do diretor” que cumpra todas as promessas de sua narrativa monumental. Por enquanto, ficamos com aquela sensação de que faltou alguma coisa.


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