Foxcatcher (2014) | |
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Direção: Bennett Miller Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo, Sienna Miller |
Assistir a “Foxcatcher” é como montar um quebra-cabeça. Cada imagem é uma peça para se refletir e guardar na memória na tentativa de montar o quadro geral. O diretor Bennett Miller não tem pressa e deixa planos longos em que “nada acontece”. Mas tudo acontece ali, nos olhares, nos pequenos gestos, no cenário vazio e isolado.
Como o subtítulo brasileiro faz questão de entregar, “A História que Chocou o Mundo” é baseada em acontecimentos reais que terminaram de forma trágica. Se você não sabe do que se trata, vá ao cinema sem saber e deixe-se levar pelo difícil exercício de hipnose de Miller ao nos deixar constantemente incomodados, mas sem conseguir desgrudar os olhos da tela. Se você já conhece a história, sinta aquela angústia de escutar o canto dos pneus sabendo da batida que virá em seguida. Mas no caso de “Foxcatcher” o barulho do pneu derrapando é uma agonia que dura mais de duas horas.
Mark (Tatum) e David Schultz (Ruffalo) são os irmãos campeões de wrestling nas Olimpíadas de 1984 que estão se preparando para o campeonato mundial quando o primeiro recebe um convite: ser treinado pelo bilionário fã do esporte John du Pont (Carell). A partir daí tem início uma espécie de triangulo com relações cheias de tensão, ciúme, empolgação, alegria, inveja, superação. É no embate de tantas contradições que o filme vai tecendo sua teia devagar, oferecendo as peças de seu quebra-cabeça no ritmo de uma luta bem estudada.
Cada golpe é desferido no momento certo e os três oponentes são feridos cada qual à sua maneira, com o trabalho sensacional dos atores para que consigamos nos identificar e ter algumas âncoras naquele mundo tão sombrio. Channing Tatum traz sensibilidade, insegurança e coragem em cada olhar, enquanto Mark Ruffalo com poucas palavras constrói um Dave seguro, responsável e amoroso: o tipo de irmão que todos gostariam de ter por perto. Mas é Steve Carell quem realmente impressiona como um Sr. Burns da vida real. Além de trazer uma certa simpatia para du Pont, sua atuação minimalista fascina por tornar aquela figura tão crível ao mesmo tempo em que apenas sua postura corporal já revela todo um inferno interior do personagem.
Quem eram aquelas pessoas? Por que elas tomaram as decisões que tomaram? “Foxcatcher” não dá nenhuma resposta fácil, e conta com o espectador para juntar as imagens e tentar entender o que aconteceu. E no processo levar – junto com os personagens – alguns golpes dolorosos em uma luta sem vencedores.