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Mau-passado

01.08.05

por Rodrigo Campanella

A ilha

(The Island, EUA, 2005)

Dir.: Michael Bay
Elenco: Ewan McGregor, Scarlett Johansson, Djimon Hounson, Steve Buscemi

Princípio Ativo:
Carne viva

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Bem que ele tentou. Depois do retumbante fracasso de “Pearl Harborâ€, o diretor Michael Bay não havia feito nada no cinema a não ser uma seqüência do já con$agrado “Bad Boysâ€. Faltava ainda uma reposta a todos que especulavam se seu modelo de filme-rojão, explodindo pra todo lado, havia se esgotado depois de tops de bilheteria como Armageddon.

A Ilha acabou se esfacelando nas bilheterias americanas como um barquinho de papel encharcado. Bay parece ter querido se redimir dos excessos de Pearl Harbor trazendo atores respeitados (McGregor e Scarlett Johansson) e um tema científico e polêmico (clonagem/prolongamento da vida). Porém, o que aparece na tela é a impressão de um diretor perdido com tanto material potencialmente interessante na mão. Da direção de arte e fotografia aos atores, sobram pequenas grandes qualidades n'A Ilha.

Num futuro próximo, Lincoln Six-Echo (McGregor) e Jordan Two-Delta (Johansson) são moradores/prisioneiros num grande complexo que, aparentemente, abriga o que restou de uma humanidade nuclearmente destruída. Bem-tratados enquanto animais confinados, acabam descobrindo que o lugar na verdade é um grande depósito de clones para milionários, que mantém ali carne nova esperando para o abate e o transplante.

Ao encarar o tema, Bay parece se esquecer de sua própria ‘cartilha para explosões de sucesso’ (mocinho de caráter duvidoso enfrenta ameaça aterradora - mas distante de nossa realidade – junto de mocinha de caráter imaculado) e traz, junto dos rojões, fraturas expostas da sociedade atual. Mais do que discutir a validade de se prolongar a vida usando clonagem, estampa na tela o quanto nós mesmos a cada dia estamos mais próximos de animais em confinamento, com o propósito de uma vida ‘melhor’. A imagem mais clara é a do complexo, com o excesso de branco só acentuando o aspecto de açougue do lugar.

A edição da ação lembra muito o que a série Alias já faz há algum tempo na televisão, e as grifes estampadas em todo lugar dão certa sensação cosntante de ‘intervalo comercial’. A despeito disso, a perseguição na rodovia é de tamanha concisão e impacto que faria a tão-famosa perseguição rodoviária de "Matrix Reloaded", sentar no canto e chorar envergonhada.

A direção de arte constrói com sucesso um mundo limpo e reluzente como um bisturi, algo que acaba caindo tão bem com uma fotografia cheia de nuances, estouros e granulações. É um mundo em uma espécie de surto orgânico que serve como metáfora (visual) das melhores. E ainda há Johansson. Pepita de ouro no cinema atual, seu rosto de eterno enigma é a melhor expressão para um futuro, seja qual for, espantoso.

O famoso padrão Michael Bay de atuação

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