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Sem resposta. E isso diz tudo.

26.06.06

por Igor Costoli

Pergunte ao Pó

(Ask the Dust, EUA, 2006)

Dir.: Robert Towne
Elenco: Collin Farrel, Salma Hayek, Donald Sutherland, Idina Menzel, Eileen Atkins

Princípio Ativo:
mortos-vivos

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O filme é uma adaptação da obra homônima do escritor John Fante, e era um projeto pessoal de 30 anos do diretor e roteirista Robert Towne (Chinatown). Para resumir rapidamente o texto de Fante, basta dizer que seu prefácio foi escrito por um admirador declaradamente influenciado por sua obra, Charles Bukowski.

Collin Farrel (O Novo Mundo) é Arturo Bandini, aspirante a escritor buscando sucesso e dinheiro na Los Angeles dos anos 30/40, época da Grande Depressão americana. O sobrenome que pode parecer mexicano não lhe abre portas. Aos poucos se descobre que inspiração lhe fazia mais falta que os minguados níqueis que não possuía.

Sentindo-se tão ridículo por roubar leite quanto humilhado por dever à senhoria da pensão no Bunker Hill, Arturo conhece a garçonete Camilla (Salma Hayek), e aí começa uma relação áspera, de troca mútua de ofensas e agressões. Arturo é um escritor de muita sensibilidade, e por isso tímido a ponto de não conhecer as mulheres ou a vida, por ter medo de ambas. Entender isso pela carta de seu editor é dos momentos máximos do filme. Por não saber falar com uma mulher, é grosseiro voluntária e involuntariamente com as que encontra, incluindo a patética mas cativante Vera Rivkin (ótima atuação de Idina Menzel).

Salma recusou o mesmo papel 8 anos antes, com medo de ficar estereotipada. Argumento justo. Depois de filmes e reconhecimento, não havia então melhor escolha para interpretar uma mulher forte, dura às custas do preconceito sofrido e interessada em um futuro melhor. Como o personagem principal, Farrel não decepciona, ao contrário. E isto vale menção, já que Arturo é o filme.

Perdido e autodepreciativo, é difícil pensar que Bandini realmente acredite em seus sonhos. Se Farrel e seu Arturo são a exata noção do destempero, rude quando sabemos estar fraco, perdido quando esperaríamos que fosse forte, o filme retrata uma época através do estilo que ela concebeu. Pergunte ao Pó não é um filme noir, mas seus personagens o são. O gênero é homenageado não em sua forma, mas em conteúdo – a Hollywood da época de ouro e sua máquina de triturar pessoas . As personagens estão perdidas demais, desiludidas demais, e o que lhes sustenta, quando sustenta, é a pose.

E o amor de Arturo e Camilla é um sentimento que está ali o tempo todo, ainda que só se vejam as constantes trocas de farpas entre o casal, e a inabilidade dos dois em deixarem para trás o sofrimento e a discriminação que carregaram para uma Los Angeles vermelha e solitária. Não se engane: todos estão sós.

Ele que amava ela que amava ele. E o mundo que não amava ninguém.

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