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Gesso

09.11.06

por Rodrigo Campanella

Sonhos e Desejos

(Brasil, 2006)

Dir.: Marcelo Santiago
Elenco: Mel Lisboa, Felipe Camargo, Sérgio Marone, Ricardo Pereira

Princípio Ativo:
o português

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Com “Os Sonhadoresâ€, Bernardo Bertolucci fotografou ânsia e impasse de uma revolução usando apenas todo tipo de tesão reprimido de um casal de irmãos e seu novo amigo americano, todos trancados num apartamento. Era aquele maio de 68 que a História ainda engasga na hora de explicar, narrado nos olhos de um pré-pós-garoto que escolhe a cama, e não as ruas. O diretor Marcelo Santiago tinha oportunidade parecida para olhar a guerrilha brasileira na ditadura, dessa vez sob olhos femininos.

Identificar que o eixo do filme é a história de amor da quase-guerrilheira Cristiana (Mel) é mais fácil quando isso é dito pelo produtor em uma entrevista do que assistindo a projeção. A moça foge para Belo Horizonte de braços dados com o professor/amante Saulo, certa de que vai para a ação armada. Vira uma dona de casa com funções de enfermeira para outro rebelde ferido, mascarado boa parte do tempo. Vai se apaixonar por ele.

Em seu primeiro longa, Santiago sofre da vontade de discutir uma dezena de assuntos, deixando todos pela metade. Catalogar o filme por tema levaria a uma dúvida entre termos tão diferentes quanto “mulheres na guerrilhaâ€, “triângulo amoroso†ou “ditadura em BHâ€, entre vários. Numa cena emblemática, Cristiana se condói por um menino que pede esmola diante da igreja, misturando desconforto diante da pobreza com embate à ditadura. A cena é tão deslocada que parece pertencer a outra montagem do filme.

Se cinema é montagem e imagem somada a som para criar um universo que se expande na cabeça de quem assiste, dá para dizer que o problema-chave de “Sonhos e Desejos†é técnico. Não no manejo da câmera ou da luz, mas na crença de que quem está na poltrona é incapaz de entender algo complexo como um... filme. O nivelamento pelo subterrâneo leva a diálogos, edição e enquadramentos duros como se fossem teatro filmado de quarenta anos atrás, algo em que a interpretação inclassificável de Felipe Camargo também acredita.

Textura, movimentos de câmera e cenografia de cinema estão lá, até nas imagens minimalistas que tentam lembrar que estamos em BH, mas a impressão de material didático (recorrente no cinema nacional pós-retomada), impede que história tenha cinco centímetros a mais de profundidade do que aquilo que é recitado na tela. Com a ressalva do ótimo português Ricardo Pereira no papel de Rocco e de Mel Lisboa, nos momentos mais livres. Algo esperado para um filme que até no subtítulo (“Eles só não resistiram ao fogo da paixãoâ€) faz questão de chapar qualquer expectativa que a platéia possa ter.

Camargo e Marone se escondem até que tudo chegue ao fim.

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