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O(s) dono(s) da(s) história(s)

12.01.07

por Daniel Oliveira

Mais estranho que a ficção

(Stranger than fiction, EUA, 2006)

Dir.: Marc Forster
Elenco: Will Ferrell, Emma Thompson, Dustin Hoffman, Maggie Gyllenhaal, Queen Latifah

Princípio Ativo:
quarteto fantástico: Forster, Ferrell, Thompson e Hoffman

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Na semana passada, falei sobre cineastas bons e cineastas preguiçosos (adoro esse tipo de referências textuais – parece um grande livro, algo como “Minha vida e o cinemaâ€). Enfim, desculpe pela divagação idiota. O fato é que:

1- o branco do apartamento da escritora Kay Eiffel, lembrando o tempo todo de seu bloqueio criativo;
2- os enquadramentos abertos do fiscal da receita Harold Crick, mostrando seu “isolamentoâ€, já que só ele escuta a narradora de sua vida; e
3- e a pequena seqüência da psiquiatra que diagnostica Crick com esquizofrenia, enquanto os dois são enquadrados com seus respectivos reflexos na mesa de vidro,

não deixam dúvida. Marc Forster é um cineasta do primeiro grupo. Entre ótimos (Em busca da Terra do Nunca) e bons (A última ceia) trabalhos, ele sempre imprime uma linguagem visual extremamente significativa aos seus filmes, que fazem valer mesmo o roteiro mais bobinho (A passagem).

O que nem é o caso de “Mais estranho que a ficçãoâ€. O roteirista estreante Zach Helm conta a história do tal Harold Crick (Ferrell), que descobre que sua vida monótona é, na verdade, um livro. E a autora Kay Eiffel (Thompson) pretende matá-lo no final. Com a ajuda do professor de literatura Hilbert (Hoffman), o protagonista tenta reverter o status de tragédia de sua vida para uma comédia, a fim de conseguir um final feliz para a bagunça.

E se Crick é obcecado por Matemática, nem precisa ser gênio para resolver a equação aqui. Junte a boa idéia acima a três ótimas atuações. Um contido Will Ferrell, que diverte silenciosamente, e sem caretas, como na cena com o técnico de RH. Uma angustiada Emma Thompson, que torna brilhante mesmo uma cena piegas, como quando Eiffel sofre pelos personagens que já matou. E um Dustin Hoffman que transforma o velho-sábio-Morgan-Freeman em um imprevisível rouba-cena.

Divida por duas coadjuvantes-muleta. A assistente (Latifah) e a namorada (Gyllenhaal) são por demais esquemáticas, mas não comprometem. E multiplique por uma trilha sonora que dita perfeitamente o ritmo do longa. Resultado: um filme envolvente e agradável de se assistir.

Forster faz um Charlie Kaufman mais leve, mas não superficial. Mesmo a comédia romântica clichê entre Crick e a confeiteira está ali porque ele precisa dela para se salvar. E são essas pequenas digressões que o filme faz sobre si mesmo, especialmente no comentário final do prof. Hilbert, que deixam “Mais estranho que a ficção†bem acima das comédias bobinhas que infestam os cinemas.

Ferrell: ansioso na sala de espera para o teste de “ator sérioâ€.

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