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Retrato de uma ficção

12.03.07

por Mariana Souto

A pele

(Fur: An imaginary portrait of Diane Arbus, EUA, 2006)

Dir.: Steven Shainberg
Elenco: Nicole Kidman, Robert Downey Jr., Ty Burrell, Harris Yullin, Jane Alexander

Princípio Ativo:
olho mágico, filme nem tanto

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Não entendo porque fazer um filme imaginário sobre alguém que realmente existiu e era uma pessoa de visibilidade. Nesse caso, a retratada foi a fotógrafa Diane Arbus, famosa por suas imagens de pessoas estranhas e bizarras. O longa focaliza a fase em que Diane se descobre uma artista e sequer tinha tirado fotos antes. Centra-se em seu relacionamento com Lionel, o vizinho com uma doença que lhe faz crescer pêlos em excesso em todo o corpo, dando-lhe a aparência de Chewbacca.

O filme é especulação pura, já que um dos protagonistas é totalmente inventado e tem uma doença que atinge 19 pessoas no mundo atualmente. Façam ficção de uma vez! E coloquem outro nome na Nicole Kidman, em respeito à Diane.

Vinda de uma família rica, bem casada e com duas filhas, a protagonista é infeliz e se sente estranha, deslocada. Tem atração por figuras marginalizadas e passa a conviver com anões, prostitutas, gigantes, deficientes. Encontra nessas pessoas algo de si mesma e faz de seus retratos um espelho para suas próprias inquietações e peculiaridades. A premissa de “A Pele†é interessante em suas questões misteriosas e obscuras, mas o roteiro deixa o filme arrastado e sem ritmo.

A direção de Steven Shainberg (Secretária) se salva em alguns momentos, sobretudo aliada a uma boa montagem em momentos iniciais do filme, quando Diane se arruma. São válidas também algumas rimas visuais e o enquadramento dos personagens através de olho mágico, simbolizando aquilo que se coloca entre o observador e o observado – a lente da câmera –, ainda trazendo a idéia da distorção.

O roteiro falha mais uma vez ao não desenvolver muitos personagens de forma satisfatória. A filha de Diane, que a desaprova, perde-se na história. O mesmo acontece com os pais da fotógrafa. Alguns diálogos soam por demais insólitos, mesmo em um filme com toques de fantasia. Na primeira conversa entre Lionel e Diane, ele pergunta se ela gosta de se exibir. Assim, do nada. E ela responde que sim. Ele pergunta se ela se exibia para os empregados na adolescência. Ela responde que sim. De onde ele tira perguntas tão específicas, e ainda consegue fazê-la responder no primeiro contato? E acertar? Mesmo que ninguém seja normal em “A Peleâ€, o diálogo ainda soa esdrúxulo.

A pesquisa sobre a arte da fotografia e a vida de Diane Arbus me inspiraram muitos pensamentos interessantes, mas coisas que abstraí a partir do tema proposto e não que encontrei profundamente no filme, que está mais para uma nova versão de “A Bela e a Feraâ€.

Mezzo stepford wife, Mezzo desperate housewife e uma pitadinha de Diane Arbus.

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