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A Hora do Rush 25

04.09.07

por Leonardo Rodrigues

Rush - Snakes & Arrows

(Warner, 2007)

Top 3: "Far Cry", "The Way the Wind Blows", "The Main Monkey Business"

Princípio Ativo:
Sinergia

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O jornalismo preguiçoso ensina que a natureza do Rush é um protótipo de parnasianismo musical, o apuro da forma em detrimento de boas composições, melodias e letras relevantes - em suma, tudo do que é feito uma boa canção. E pior: muito pelo timbre peculiar da voz do baixista Geddy Lee, ainda hoje carregam o fado de ser uma das bandas mais chatas do universo. Mas quem conhece a fundo o catálogo do grupo, geralmente exclusividade de carolas, sabe que a história escreveu linhas muito diferentes.

Desde a formação nos anos 60 eles tiveram como ponto categórico a capacidade de reinvenção em momentos cruciais, sem grandes prejuízos à identidade. Mesmo que indiretamente, extraíram influências do hard rock, progressivo, punk (sim!), synhtopop, grunge e mais recentemente do chamado novo rock, vide o low-profile Vapor Trails (2002). Em Snakes & Arrows o trio reconstrói alguns de seus bons momentos, talvez numa espécie de compilação involuntária.

No exercício de repaginação, apostam em uma nova metodologia de composição. Antes que os colegas entrem em ação, o baterista Neil Peart ainda escreve todas as letras (centradas no duo fé/guerra) com a abstração e o intimismo de sempre. Mas ao menos por vez, boa parte do conteúdo sonoro foi gerada a partir de jams ao violão. As palavras de agradecimento do guitarrista Alex Lifeson impressas no encarte entregam o fruto da influência das delicadezas de David Gilmour. Ainda sem abdicar de peso e com inserções lacônicas de teclados, é o trabalho mais acústico da carreira da banda.

Abre com “Far Cryâ€, com uma intro de tempos quebrados ao melhor estilo “2112 - Overtureâ€, que em seguida emoldura a dinâmica sinuosa de riffs à la “Permanente Wavesâ€. Seguem a pacifista “Armor and Sword†e “Workin' Them Angelsâ€, com um tipo de refrão-assinatura marcante e já habitual. Na evolução das faixas, a vocação do pop de melodias intrincadas crava o tom, especialmente em “The Larger Bowlâ€, “Spindrift†e “Bravest Faceâ€.

Quem sentiu falta das coqueluches-instrumentais-para-cantar(!)-em-shows, ausentes em Vapor Trails, vai se deliciar com um portifólio devidamente atualizado: a trinca “The Main Monkey Businessâ€, â€Malignant Narcissism†e “Hopeâ€. A última é adornada por uma aura folk/zeppeliana (justamente o Led Zeppelin que no início de carreira os canadenses eram acusados de copiar).

Snakes & Arrows pode nunca se tornar um clássico, tampouco representar a porta de entrada a quem nunca se deu com a densidade do Rush. Mas é um álbum que nasceu bem amarrado, coerente com a proposta explorada desde que os sintetizadores foram deixados de lado no final dos anos 80. É complexo sem auto-indulgência, muitíssimo bem tocado e nem por isso regrado a excessos. Entre veteranos, balzaques e noviços, já é mais do que se costuma esperar.

Eles ainda extraem novas influências, usam colete e fazem gracinha em fotos

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