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No inferno, toca rock´n roll ao fundo...

04.02.05

por Rodrigo Campanella

Constantine

("Constantine", EUA, 2005)

Direção: Francis Lawrence
Elenco: Keanu Reeves, Rachel Weisz, Shia LaBeouf

Princípio Ativo:
Sobre pipoca e cigarros

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… E isso é John Constantine no cinema. Para desespero dos fãs de longa data do personagem, todas as soluções óbvias de um blockbuster estão estampadas na tela. Guitarras que ditam o ritmo no inferno, gadgets e coadjuvantes de papelão para substituir um ‘clima’ que não se afirma no todo, uma insinuação de romance que não poderia estar em lugar pior... E, lendo esse texto, você começa a acreditar que Constantine é a pior porcaria que apareceu no cinema nos últimos tempos. Bem, na verdade não é. Ao contrário.

Apesar das tantas e tantas ‘licenças’, ‘Hollywood-mãe-de-todos-os-blockbusters’ rende uma grande homenagem, a seu modo todo particular, para um dos mais interessantes personagens já criados no mundo dos quadrinhos. Se os primeiros boatos de Keanu Reeves no papel do ocultista John Constantine deixaram muitos (todos?) fãs do personagem arrepiados, sair do cinema após a sessão do filme é um alívio.

Sim, há um John Constantine que mora em Londres e nunca esquecerá Newcastle, quando enviou para o inferno a alma de uma menina inocente. Mas há outro, que mora na California, fuma desesperadamente e não parece um cara que costuma mandar flores. Ainda que esse segundo seja feito exatamente para caber em uma sessão de cinema lotada de barulhos estridentes e pipoca voando, não há como negar nele uma homenagem legítima ao primeiro. Nesse ponto, Reeves repentinamente surge como um bom ator – pois, como no Constantine original, nenhum movimento facial deixa entrever o que se passa por dentro da personagem. Ainda assim, ele é capaz de investir John Constantine de um charme que cai bem num filme desse tipo.

A história encontra Constantine entretido com um câncer de pulmão que provavelmente o levará direto para o inferno, onde demônios o aguardam (literalmente) salivando. Paralelamente, uma policial (Weisz) procura entender o suicídio de sua irmã, uma forte paranormal. Quando o caminho de ambos se cruza, vão surgindo indícios de um plano do filho do demônio para tomar o poder do pai, que os envolve diretamente.

O enredo assim resumido mostra bem como a história não chega nem perto de uma boa trama de Hellblazer (o título de Constantine) nos quadrinhos, fato pelo qual talvez seja esquecido em poucos anos. O que seria uma grande pena. A condução de Lawrence é mais do que eficiente e a sutileza e precisão de algumas cenas deixaria com vergonha a maioria dos filmes de BUM! do mercado. Quando Constantine é tragado pelo desejo de mostrar tudo (a ida ao inferno, o tiroteiro com água benta), acaba sendo um filme qualquer. Porém, quando resolve apenas sugerir o clima ácido (e adulto) da revista, nem que for num pequeno diálogo, num ângulo ou numa gota d’água parada no ar, torna-se um blockbuster capaz de se elevar alguns bons metros acima do chão.

"Será que dessa vez a Oráculo não vem?"

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