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No coração das trevas

02.09.08

por Renné França

O nevoeiro

(The mist, EUA, 2007)

Dir.: Frank Darabont
Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Andre Braugher, Laurie Holden, Toby Jones, Frances Sternhagen

Princípio Ativo:
Stephen King

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Poucas vezes saí do cinema tão perplexo. Adaptado de um conto de Stephen King, “O Nevoeiro†é uma daquelas experiências que mostram do que o cinema é feito: somos tirados da sala escura e colocados em meio àqueles personagens angustiados, desesperados por uma salvação que talvez nunca virá. O interessante é que o pesadelo visual que nos choca é na verdade um filme B, com tudo aquilo que tem direito. Pois vejamos:

Um grupo heterogêneo que precisa colocar suas diferenças de lado em nome da sobrevivência?
Estão todos lá, do herói racional à fanática religiosa - passando pela criança assustada, o militar misterioso e o caipira ignorante - presos dentro de um supermercado, cercado pelo tal nevoeiro do título em uma cidadezinha de interior.

Monstros nojentos e assustadores?
Acredite: você não vai querer olhar dentro da névoa espessa que aparece onipresente em frente à porta de vidro do supermercado.

Sangue e mutilação?
Claro. E acrescente ainda esmagamento, queimaduras, ferroadas e deformações.

Mas o que diferencia “O Nevoeiro†de um “O Ataque dos Vermes Malditos†é que, por trás das câmeras, está um sujeito chamado Frank Darabont. Craque em adaptar King para o cinema, como provam seus “Um Sonho de Liberdade†e “À Espera de um Milagreâ€, o diretor entendeu de cara que os monstros são apenas símbolos para a escuridão da alma humana. O terror que se esconde na névoa é, na verdade, o mesmo que existe dentro de nós e é reprimido pela confiança nas instituições. Quando isso falta, o ser humano é mais monstruoso do que qualquer outra criatura. Frente ao desespero, revelamos uma face escondida que, na visão pessimista do filme, é nossa verdadeira face. Onde está o perigo maior: dentro do supermercado, entre os humanos, ou lá fora, escondido pela bruma?

Ainda que pesem algumas atuações um pouco caricatas e um breve romance desnecessário, “O Nevoeiro†é desde já uma das produções mais corajosas que já vi Hollywood ousar fazer. Darabont entrega um suspense angustiante e não faz nenhuma concessão. Quando achamos que o cineasta não vai ter coragem de seguir na direção que se propôs, ele dá mais um passo adiante. E além.

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O diabo toma leite.

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