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À procura de dignidade

10.05.09

por Daniel Oliveira

Um ato de liberdade

(Defiance, EUA, 2008)

Dir.: Edward Zwick
Elenco: Daniel Craig, Liev Schreiber, Jamie Bell, Alexa Davalos, Mia Wasikowska, George Mackay, Mark Feuerstein, Allan Corduner

Princípio Ativo:
irmãos

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“Um ato de liberdade†tem pelo menos uns três ou quatro daqueles discursos inspiradores em que um homem fala grita para um grupo sobre o quão importante é lutar pela dignidade e seguir em frente e não desistir. Os diálogos têm pérolas do naipe “Você salvou minha vidaâ€, “Não, você salvou a minhaâ€. E a trilha de James Newton Howard (indicada ao Oscar) é o chavão do judeu-sofrendo-chore-pelo-holocausto.

Mas, perdoe o meu francês: puta que pariu, que filme bom.

Era quase impossível errar com a história real dos irmãos Bielsky, que organizaram uma resistência judaica em uma floresta da Bielo-Rússia durante a Segunda Guerra. Dando um tempo no estereótipo do judeu passivo no campo de concentração, o filme do diretor Edward Zwick mostra um grupo que lutou contra o genocídio, ao mesmo tempo em que retrata a bela e conturbada relação dos irmãos protagonistas.

Apesar de alguns momentos 007 no início, Daniel Craig é o pacifista Tuvia, mais velho, que acredita que o grupo deve permanecer escondido na floresta, sem atacar os alemães e se defendendo quando necessário. Ele entra em choque com o irmão Zus (Schreiber, mais uma vez um ótimo coadjuvante), que reúne alguns homens do grupo e se junta ao exército russo. No meio dos dois, estão os jovens Aron (Mackay) e Asael (Bell), esperança de um futuro em meio à morte.

Em suas diferentes visões de mundo, tanto Tuvia quanto Zus buscam o mesmo: a manutenção da dignidade e da humanidade de seu grupo, num mundo de valores invertidos em sinuosas zonas de cinza. O maior mérito do filme de Zwick é criar uma bela metáfora disso na longa sequência do inverno no acampamento, quando a procura por um fiapo de luz e calor em meio ao branco gélido é tão exasperante e impossível quanto a busca dos irmãos – mérito também da fotografia impecável do português Eduardo Serra.

Porém, acima de toda essa questão judeus-genocídio, exaustivamente explorada pelo cinema, está o amor entre os irmãos Bielsky. As cenas entre os quatro são as mais bonitas de “Um ato de liberdadeâ€, com destaque para um contido Daniel Craig e, especialmente, Liev Schreiber. Ele constrói um Zus ambíguo e conflituoso, que deixa o público querendo mais quando some no meio do filme. Já Craig protagoniza uma das cenas mais bonitas que vi no cinema esse ano, quando beija e abraça Asael após ele recuperar suas esperanças quase perdidas.

São os laços dos três que carregam o longa, já que a direção de Zwick é, no geral, um mero feijão-com-arroz – Steven Spielberg ganharia 315.427 Oscar com o material. Nada que estrague a história ou impeça você de sair do cinema louco pra abraçar seu irmão.

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Alguém falou que o 007 nunca foi loiro.

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