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Jean-Louis Comolli, mais de trinta documentários dirigidos, seis ficções e nove anos nas costas como editor-chefe da bíblica Cahiers Du Cinema é um ilustre ignorado pelas telas brasileiras, tanto as que aguardam na sala escura quanto as que esperam na prateleira que alguém as leve para um passeio em casa.

Calhou do fórumdoc.bh ser a ponte que ligou a capital mineira ao francês, que já aportou aqui como convidado algumas vezes. No ano passado, a convite da UFMG, Comolli passou quase um mês na cidade para uma série de seminários. Entre os filmes que exibiu estava o inesquecível “Disneyland, mon vieux pays natalâ€, de Arnaud dês Pallières, jab inesquecível em quem diz que documentários são todos a mesma coisa e não têm como serem divertidos.

Pois o forumdoc trouxe novamente o diretor francês, mas agora somente por presença espiritual, em película (não entenda mal, a saúde do Comolli carne e osso vai muito bem, lá em Paris). O documentário da vez amarra as pontas entre Roberto Rossellini, (Roma, Cidade Aberta, Alemanha, Ano Zero), História e televisão. Lá pelos anos 60, enquanto a vanguarda francesa dos filmes se dedicava a estilhaçar as histórias, exibir as fendas e rasgar a ilusão do cinema (que eles nunca deixaram de amar), Rossellini trocou o jogo de lentes para poder mirar a televisão. Entendeu, possivelmente antes de todos, que a que a próxima fronteira seria desacelerar as imagens em geral, antes que elas se tornassem vitrines de luxo para os espectadores que passavam.

Numa série de programas para a televisão, colocou as idéias em prática, iniciando um projeto megalomaníaco, nunca completado, que pretendia contar, humildemente, a história da humanidade. Muitos desses programas foram feitos, exibidos e esperam agora que alguém os reencontre e dê o devido valor – e distribuição. A intenção do ‘abecedário’ rosselliniano (ele achava esnobe chamar o projeto de ‘enciclopédia’), era dar instrução às pessoas, não educação – material para que elas pensassem, não ensinar as coisas prontas.


O título já está ali

O caso é que lá pelo alto do filme, Comolli dá voz à afirmação do diretor italiano de que o projeto só seria (e foi) possível devido às televisões públicas e abertas (especificamente, a RAI italiana). Sem esse apoio, as chances do projeto nunca sair do papel eram próximas de 99,99%. Algo bom para pensar, nesses tempos que o audiovisual no país se fixa no debate entre ‘criação de mercado’ e ‘expressão artística’ especialmente no cinema, esquecendo a potência, o que quer que se faça dela, que é a televisão. Ninguém por essas bandas ainda se deu conta do que pode ser uma televisão pública.

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