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#6

por Rodrigo Campanella

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Quando o cinema se ocupa fazendo carinho na própria barriga, isso normalmente rende um tiro na estômago do espectador não-iniciado no mundinho cult-cinematográfico. Daí a própria complicação em selecionar filmes para um festival, aberto o quanto é possível, como esse internacional de curtas de BH. Não se pode deixar de fora o experimental sem desagradar uma parte do público – que, ao contrário do que se pode pensar, muitas vezes entra na viagem e gosta do filme. Ao mesmo tempo, existe o risco tremendo de valorizar em excesso um cinema que parece bonito demais para a cabeça mas que parece ter sido feito para espectador nenhum.

Depois da sessão mais engraçada do festival, uma seleção de curtas do carioca Christian Caselli, um cara com excelente timing de humor e disposto a experimentar até onde ficar tudo ruim, não foi fácil encarar a sexta competitiva nacional. Cinéfilos de óculos de aro grosso devem ter quase se jogado no chão em êxtase ao fim da sessão, enquanto um clima desconfortável pesava no ar entre o restante do público.

Existe um certo momento em que a atitude do diretor de fazer um curta “entenda o que quiser e veja seu próprio filme†simplesmente deixa de funcionar e corta relações com quem está sentado na poltrona, assistindo. O tiro no pé fica maior ainda quando ótimas idéias são desperdiçadas num recheado de cortes, sons e texturas que não conseguem mover uma palha no interesse do público. Quem achar que filme sério tem que se achar mais inteligente do que espectador, favor assistir “Kalashnicov†e “Freqüência Hanóiâ€, de preferência seguidos por “Eletrodomésticas†- todos já devidamente comentados nessas notas.

A sessão toda de hoje talvez possa ser resumida no melhor filme da noite, “O Monstroâ€, de Eduardo Valente. Numa primeira assistida, a força da história fica perdida na distância que o diretor toma do público. Uma lembrança leve foi aquele cubo de gelo perfeitamente simétrico chamado “Estrada para a Perdiçãoâ€, praticamente um espetáculo visual sobre como a neurose de alguém (um diretor) paralisa qualquer emoção. “O Monstro†não fica nem perto disso, mas a emoção parece dissolvida em uma vontade de levar muito, muito a sério o que está sendo contado na tela. Parece uma tentativa constante de ser maior, sem perceber quando consegue. Indispensável assistir de novo depois que a poeira assentar na cabeça, como é bom também dar uma olhada na graça rápida de “Sal Grossoâ€, do RJ. E, por hoje, é só isso mesmo.

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