Busca

»»

Cadastro



»» enviar

Made in MTV

11.09.04

por Rodrigo Campanella

Dogtown and the Z-Boys

(EUA, 2002)

Direção:Stacy Peralta

Elenco: Jay Adams, Tony Alva, Stacy Peralta, Jeff Ament, Narração: Sean Penn

Princípio Ativo:
Categóricas fotos de Craig Stecyk

receite essa matéria para um amigo

Saindo da sala de Dogtown and Z-Boys, no Indie, eu estava dividido entre duas negativas. Por um lado, sentia que o filme tinha me arremessado da sala antes de concluir. Ao mesmo tempo, a produção tinha um ‘quê’ de propaganda publicitária que me incomodou. E, no meio dessa bagunça toda, eu ainda gostei de Dogtown. Mas a sensação de um filme soterrado sobre suas imagens, essa ficou.

Dogtown é uma área barra-pesada em Santa Monica, California, onde literalmente foi criado o skatismo tal como ele é hoje. Até então, skate era coisa de criança e as competições se resumiam a corridas de obstáculos e acrobacias em pista plana. O panorama mudou quando apareceu a equipe Zephyr (os Z-Boys), vinda da região. Antes surfistas, eles estenderam os limites do skate, invadindo piscinas para andar e tornando o esporte vertical.

O documentário vai tentar recompor, com depoimentos, fotos e alguns vídeos, essa evolução. O problema aqui é o tratamento ‘liquidificador’ que todo o material recebe. As imagens não conseguem ficar paradas o tempo necessário para que se possa entrar nas histórias. Antes de ser usado, tudo parece já estar sendo reciclado continuamente. Não é um clipe, mas parece não saber como escapar disso.

No meio dessa mistura que surge a cara de propaganda. Todas as manipulações de imagem, os ângulos de câmera, parecem estar resgatando, mais do que uma história, o poder de uma marca. Sem muito esforço, era possível pensar quando é que entraria ali o logotipo de uma marca de óculos escuros ou de tênis.

Mais do que jogar pedras na vidraça, isso serve para pensar como é que os modos de imagem hoje estão infiltrados, e como o ritmo de videoclipe parece ter se tornado o padrão para uma geração (ao menos pensam assim produtores e diretores).

A escolha do tema talvez seja um dos grandes trunfos do doc. O surgimento do skate moderno é em si interessante. Tem seu lado transgressor e inesperado (a invasão das piscinas para fazer de pista, os surfistas renegados que mudam o skate). De outro, aparece na tela como essa reinvenção do skatismo foi um negócio, com todos os valores monetários bem pesados.

Em meio a todas as histórias dos Z-boys, burocráticas às vezes, é Jay Adams, que rende a melhor. Ao mesmo tempo, grande parte do vazio que Dogtown... me despertou talvez tenha vindo depois daí. Antes um grande skatista, com uma incrível habilidade natural, Jay acaba batendo de frente com a vida. E o que impressiona não é o modo aparece sua história, mas exatamente como ele, no depoimento atual, parece conseguir ultrapassar a imagem (estilizada) proposta pelo documentário.

Uma das cenas da criação do skatismo tal como ele é hoje

» leia/escreva comentários (2)