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O idiota (em frente ao espelho em frente ao idiota em frente ao espelho)

22.05.08

por Rodrigo Ortega

Control

(Inglaterra, 2007)

Dir. Anton Corbijn
Elenco: Sam Riley, Samantha Morton, Alexandra Maria Lara, Joe Anderson

Princípio Ativo:
Atmosfera

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Dizem que a melhor coisa de Control é a interpretação realista que Sam Riley faz do líder suicida da banda inglesa Joy Division. Mas a melhor imitação da dança epilética de Ian Curtis desde Renato Russo não é o único mérito do filme. É só o ponto de partida para a reconstrução visual de um roteiro que Curtis criou para a própria vida - uma daquelas histórias com início genial e final tão complicado que o único desfecho possível é matar o protagonista, que no caso era ele mesmo.

"Eu não quero mais estar na banda. Nunca imaginei que tudo fosse crescer assim... É como se não estivesse acontecendo comigo, mas com alguém fingindo ser eu. Alguém vestido na minha pele."

Antes de um show, Ian faz essa confissão. O vocalista tenta fugir, mas volta e sobe no palco. Ele está preso em uma imitação de si mesmo que a tela de cinema potencializa - um ator interpreta o personagem que interpreta um ator que interpreta um personagem que interpreta um ator etc.

As imagens em preto-e-branco, os cortes secos e os planos fechados são reconstruções visuais das músicas trágicas e bonitas do Joy Division. As músicas, por sua vez, eram versões sonoras que Ian Curtis e sua banda fizeram do depressivo cenário das cidades inglesas no final dos anos 70.

- Me fale de Macclesfield.
- É cinza, é miserável. Eu tentei escapar por toda minha vida.
- E a sua esposa?
- Ela ama Macclesfield.


O diálogo aconteceu entre o cantor e uma jovem belga, Annik (Alexandra Maria Lara), que se tornaria sua amante. Curtis se casou aos 19 com Deborah (Samantha Morton), autora do livro que baseou o roteiro do filme. Ao longo do filme o músico se envolve cada vez mais com a banda e com Annik, uma segunda tentativa para sua vida sem sentido e seu casamento fracassado. Ele busca profundidade naquelas imagens chapadas e cinzas.

O diretor do filme, Anton Corbijn, ficou famoso por fazer videoclipes (Nirvana, U2, Killers). Talvez por isso sejam tão boas as cenas com as músicas originais do Joy Division, como quando Deborah sai andando em uma rua cercada por casas idênticas e carros quadrados dos anos 70, com Ian observando no fundo, logo após dizer que não a amava, ao som da introdução de "Love will tear us apart".

A cena mais famosa de Ian, do suicídio enforcado no varal ouvindo o disco The Idiot, de Iggy Pop, é mostrada apenas parcialmente. Anton troca a imagem do cantor dependurado pela de uma chaminé soltando fumaça preta na feia Macclesfield, enquanto Deborah grita desesperada na rua por algém para ajudá-la, com a trilha de "Atmosphere", do Joy Division. A obra de Ian e a de Anton Corbijn são dois espelhos, um de frente para o outro - multiplicam símbolos e significados ao infinito.

Mais pílulas:
- DNA - Joy Division
- DNA - New Order
- Receituário - Sem Controle *

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* Ps: Sem Controle não tem nada a ver com Control. E tem o Eduardo Moscovis. E eu só descobri isso depois que já estava dentro do cinema.

Sam Riley: melhor que Renato Russo

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