HQs: Os Mortos-Vivos (1 e 2)


Quando tinha uns 25 anos, li Ensaio Sobre a Cegueira e lá pela página 50 arregalei os olhos e pensei: “Ué, não sabia que o Saramago tinha escrito um livro sobre zumbis”. A coisa que mais me deixou alucinado com o livro foi a forma de mostrar a capacidade que temos de nos tornarmos animais quando colocados em situações limites. O homem se torna rapidamente o lobo do homem. A associação é inevitável com filmes como Madrugada dos Mortos (do Romero) e Extermínio, em que às vezes o perigo maior está nos que ainda não se tornaram zumbis. Com Os Mortos-Vivos (The Walking Dead), o escritor Robert Kirkman quis trabalhar nessa mesma sintonia. Já no prefácio ele indica: “… essa não é uma história de terror. Tudo bem se você se sentir amedrontado, mas não esse não é o ponto principal.”

Nossa história começa com o oficial de polícia Rick levando um pipoco em uma batida, para acordar de um coma na página seguinte em um hospital deserto e uma cidade completamente tomada por zumbis, parecido com o que acontece com o protagonista de Extermínio (talvez por isso mesmo, esse prelúdio seja bem curtinho). Não importa saber de onde surgiu esse vírus que devastou parte da população, mas apenas sobreviver. Após se recompor, o policial busca por sua família, caso tenha sobrevivido, e uma maneira de sair dessa loucura toda. Mas sabemos que a loucura ainda vai durar bastante tempo.

Encontrando mais gente na mesma situação em que ele, Rick começa a enfrentar também problemas com os humanos, mesmo com quem era seu amigo há muito tempo. E sobreviver não significa apenas não levar uma mordida dos “andarilhos”, apelido dos devoradores de carne humana, mas também formar um grupo, conseguir comida, água, gasolina e um abrigo tranquilo.

Em Os Mortos-Vivos, que já tem uma série com data de lançamento oficial pro Halloween, o autor nos apresenta várias formas de lidar com o isolamento, com o perigo iminente, com o desespero, a perda e a solidão. Na trama não há um mesmo ponto de vista, há o herói que tenta proteger a todos. Há os que ficam insanos ao serem levados às situações extremas. E também os que aproveitam ao máximo, pois o fim está próximo. Há os que carregam armas para onde forem. Mas também os que acreditam que matar não é a solução, pois essa pode ser uma doença tratável ou mesmo passageira. São situações universais, como em Ensaio Sobre a Cegueira e até algumas histórias que aconteceram em desastres como o furacão Katrina, em New Orleans. Os zumbis só estão lá pra botar tudo junto na mesma panela. Abordando o lado humano desse gênero, Robert Kirkman consegue o que é raro: oferecer uma história com cérebro.

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