Estamos Juntos


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

“Acho que o céu de São Paulo é o inverso. Pra ver as estrelas você tem que olhar de cima para baixo”. A história de uma médica workaholic, que se descobre mais sozinha do que imaginava, depende um pouco da experiência de se viver em São Paulo para ser totalmente compreendida.  Carmen (Leal) veio do interior do Rio de Janeiro para a capital paulista, onde parece pular de relacionamento em relacionamento para conseguir suportar o individualismo que uma grande cidade obriga. Através de um amigo gay (Reymond), conhece um músico argentino com quem passa a ter uma confusa relação. Cauã Reymond está ótimo como Murilo, enquanto Leandra Leal carrega com competência toda a angústia da personagem.

O filme de Toni Venturi parece interessado nas relações artificiais que se contrapõem ao companheirismo interiorano (as memórias de Carmen da cidadezinha onde todo mundo sabia da vida de todo mundo são um ótimo contraponto para sua realidade solitária em São Paulo). O diretor aproveita para mostrar os amigos, ou colegas de trabalho, como desconhecidos. Esta artificialidade se reflete no destaque que é dado às luzes artificiais dos ambientes freqüentados por Carmen: o hospital, a boate, o apartamento.

Juntos, mas separados

O trabalho como substituto da vida social é exaltado no momento em que a médica precisa parar de trabalhar, mas insiste em continuar no emprego. É a necessidade de continuar trabalhando para continuar tendo uma vida. A angustiante falta de contato entre as pessoas vai num crescendo que coloca São Paulo como uma cidade em que é cada um por si, e seu lugar precisa ser ocupado à força. Estão todos juntos, mas separados.

É aí que entra a subtrama que faz “Estamos Juntos” perder seu foco. Carmen passa a fazer trabalho comunitário em um prédio ocupado no centro da cidade. A história dos sem-teto (que o diretor já abordou em um documentário) é uma tentativa de mostrar como as relações pessoais são mais próximas entre aqueles que não têm nada a perder, ao mesmo tempo em que serve de metáfora para esta dificuldade de se encontrar em uma grande cidade um lugar próprio, um “lar” no sentido mais simbólico da palavra. Mas esta parte da história se perde e, por consequência, acaba enfraquecendo a narrativa principal.

Abrindo e encerrando com a imagem dos prédios que parecem verdadeiras muralhas ao lado das favelas, o filme coloca na pergunta “o medo deixa as pessoas mais egoístas?” um esboço de tese para explicar a solidão paulistana. Apesar de cercados por milhares de pessoas, estão todos isolados, escondidos em suas fortalezas de concreto por causa do medo? É isso que cria um egoísmo tão forte ao ponto de termos que fantasiar nossas próprias amizades?

Apesar de uma narração em off desnecessária e alguns personagens e passagens dispensáveis, “Estamos Juntos” é uma interessante reflexão sobre a crescente desumanização das metrópoles. Em São Paulo, até as estrelas são artificiais.


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