Muitos já sonharam em viajar pelo espaço, saber se há vida em outros planetas, outras civilizações, outras culturas. E da mesma forma muitos já sonharam em poder ir para o futuro, saber como serão as próximas gerações, quais alterações ocorrerão no mundo e seu ecossistema. Baseado no livro escrito por Pierre Boulle em1963, o filme de ficção-científica “O Planeta dos Macacos” explora exatamente esses dois temas.
A história conta a viagem de quatro astronautas, Taylor (Charlton Heston), Landon (Robert Gunner), Dodge (Jeff Burton) e Stewart (Dianne Stanley) que desbravam o universo através da velocidade da luz, seguindo a teoria de “dilatação do tempo” em que o tempo de todo universo passa a correr de forma diferente da deles devidos às fendas provocadas pela velocidade da luz. Assim, os astronautas viajam mais de 2000 anos pelo espaço, sendo que para eles, só se passaram 18 meses.
Após uma dura aterrissagem em um planeta desconhecido, em um futuro distante, os sobreviventes da viagem começam a explorá-lo à procura de vida. Até que acham, ou melhor, são achados, por um bando de pessoas, similares aos homens das cavernas, que nem sequer falam. Se forem esses os habitantes desse planeta não demoraria muito para os astronautas serem tratados como reis. Mas não é isso que acontece. Uma cavalaria montada por macacos humanóides ataca a todos, prendendo-os em jaulas como se fossem animais.
No cenário desse distante planeta do ano de 3978, os macacos são a raça dominante, enquanto o homem é um reles animal irracional, caçado, usado em pesquisas e trancafiado em condições subumanas. Taylor é o único que consegue se manter ileso após ser preso pelos macacos, e sua capacidade de fala aguça a curiosidade da cientista e psiquiatra de animais, a símia Zira (Kim Hunter), que junto ao seu noivo, o arqueólogo Cornélios (Roddy McDowall), tentam provar que os humanos podem ser considerados seres inteligentes.
“O Planeta dos Macacos” é uma inteligente crítica à humanidade mascarada em uma ficção científica. Ver os macacos, que nós consideramos animais inferiores, agindo como os humanos, faz com que reflitamos sobre nossa própria natureza: será que o homem é um animal tão racional assim? O que difere nossa capacidade de raciocínio com o instinto de um símio?
Tudo que os macacos fazem no filme não é muito diferente do que o homem faz no mundo real, desde os maus tratos aos seres inferiores, até os exageros em crenças religiosas, mentiras e injustiças dentro de um tribunal, aspectos retratados firmemente pelo Dr. Zaius (Maurice Evans), principal vilão da trama.
Mas o filme não tenta mostrar só o lado ruim da humanidade. O carisma apresentado por Zira e Cornélios é cativante. Ver como ambos são honestos e sinceros faz com que, em determinada parte do filme, você passe a acreditar que existem seres bons na sociedade, que tudo pode finalmente dar certo e que eles vão resolver os problemas enfrentados por Taylor. Sem dizer o jovem Lucius (Lou Wagner), sobrinho de Zira, que busca retratar como é um adolescente rebelde e revoltado com a autoridade dos adultos, além de conquistar o público jovem que ganhava cada vez mais importância como mercado consumidor naqueles anos 60.
E mesmo com todo esse desfile de maquiagem, o colírio para os olhos de quem assiste ao filme está por conta da humana Nova (Linda Harrison): ela não diz uma palavra o filme todo, mas olhá-la andando com pouca roupa, acompanhando Taylor onde quer que ele vá, compensa o fato dela não abrir a boca. Será que essa foi outra crítica de Pierre Boulle e dos roteiristas Michael Wilson e Rod Serling? O machismo da mulher calada e submissa como mero objeto sexual?
Um dos motivos de seu sucesso é que “O Planeta dos Macacos” é um espelho do que era a sociedade americana na década de 60. Os símios se comportam exatamente como humanos, têm os mesmo defeitos e as mesmas qualidades éticas. E o que mais impressiona é que pouco mudou 43 anos depois, permitindo ao filme envelhecer bem, com uma temática ainda atual.
Nos quesitos técnicos, o filme está muito bem servido de efeitos visuais. A maquiagem usada para a criação dos macacos é brilhante e poucas vezes sente-se as limitações da época, que foram dribladas pela criatividade de Franklin J. Schaffner e Arthur P. Jacobs (respectivamente diretor e produtor do filme).
Mas o grande ás na manga de “O Planeta dos Macacos” não está na analogia de que os homens podem ser tão animais quanto os macacos e sim na forte crítica sobre o que poderia acontecer com o mundo se os países continuassem batalhando em guerras sem sentido (no período em que o livro e o filme foram lançados acontecia a Guerra do Vietnã e o mundo vivia o medo do apocalipse nuclear da Guerra Fria), o que fica claro em seu final icônico, quando descobrimos que Taylor e os outros astronautas não caíram em um planeta distante como imaginavam, mas sim na própria Terra, num futuro caótico em que provavelmente as inúmeras guerras e ataques de bombas nucleares transformaram o planeta em um grande deserto e colocou o ser humano no piso da cadeia alimentar. Ajoelhado diante os escombros da Estátua da Liberdade, Taylor amaldiçoa e culpa todos aqueles que viveram no passado e transformaram o planeta Terra naquele inferno.
Assistindo ao filme com cuidado, prestando atenção em cada detalhe e nuance, sente-se um engodo na garganta ao término, fazendo-nos realmente imaginar que o mundo não tem salvação. Como se trata de uma produção de 1968, o desconforto é ainda maior hoje, percebendo que pouco melhorou. Guerras, terrorismo, degradação ambiental. Será isso que nos aguarda no futuro? O declínio na raça humana pela suas próprias mãos? Ou ainda temos esperança?
Uma resposta para “Na Prateleira: O Planeta dos Macacos (1968)”
[…] invés de surpreendentes, são mecânicas e previsíveis. Não precisamos nem ter assistido a “O Planeta dos Macacos” para saber que há algo a ser descoberto nas “zonas radioativas” proibidas, e nem precisamos […]