O Homem do Futuro


Nossa avaliação

[xrr rating=1/5]

A trama de “O Homem do Futuro” gira em torno de Zero (Wagner Moura), um físico ranzinza e infeliz que tenta inventar uma fonte de energia alternativa que, segundo ele, irá abolir a conta de luz. Que essa nova forma de energia dependa de um acelerador de partículas que consome uma quantidade de eletricidade que energizaria o país inteiro é apenas uma das muitas incoerências que assolam a mal-ajambrada narrativa.

Durante um teste do aparelho, Zero é transportado para 1991, a data fatídica em que foi humilhado durante um baile da faculdade e perdeu seu grande amor: Helena (Alinne Moraes). Ali ele decide interferir nos eventos para que seu “eu” passado fique com a garota e tenha uma vida de sucesso. Entretanto, o resultado não é o esperado, e o cientista se vê obrigado a voltar ao passado uma segunda vez para consertar os seus erros.

“O Homem do Futuro” tem a coerência interna, a profundidade dramática e a precisão científica de um episódio de “Power Rangers”, ou qualquer outro seriado infantil do tipo. O fato de inserir algumas informações sérias sobre física em meio a baboseiras sobre “o papel do amor na equação unificada do universo” só torna as coisas piores. No último ato a trama até ameaça decolar, explorando algumas daquelas reviravoltas que tornam as histórias sobre viagem no tempo tão divertidas, mas isso é prejudicado pelo fato de que o filme quebra as regras que ele mesmo estabelece a fim de produzir o final desejado.

A qualidade das atuações é também comparável com a dos astros de Power Rangers, mas o destaque vai mesmo para Wagner Moura. O ex-Capitão Nascimento encarna mal três versões do mesmo personagem: João, seu “eu” de vinte anos, uma caricatura do adolescente nerd, tímido e gago; Zero, o “eu” de quarenta anos, caricatura do cientista louco, fracassado e pessimista; e o “astronauta”, seu “eu” da segunda viagem ao passado, que inexplicavelmente perde todos os trejeitos ridículos e patéticos da versão anterior para se converter quase literalmente em um herói de armadura brilhante. A incoerente e súbita transformação do protagonista entre uma viagem e outra é tornada ainda mais evidente pelo fato de que as duas versões chegam a dividir a cena em múltiplas ocasiões.

O filme é uma coleção de clichês, muitos dos quais são típicos da cultura norte-americana e parecem bastante fora do lugar em uma produção nacional. A escolha por fazer do baile um momento decisivo da trama torna impossível não comparar “O Homem do Futuro” com a clássica trilogia de “De Volta Para o Futuro”, de onde são “chupados” vários elementos do filme. Os diálogos são péssimos, e a insistência na repetição do bordão sem graça do personagem título irá provocar bocejos em cada uma das dez vezes em que é proferido.

Outro aspecto que irá provocar convulsões no espectador é a trilha sonora, que consiste ora em um tema instrumental pouco inspirado e que se esforça em ridicularizar o filme, ora em uma seleção de ótimas canções, mas que são sempre utilizadas nos momentos mais óbvios e redundantes. Só para ilustrar: a canção tema do filme é “Tempo Perdido”, da Legião Urbana, maltratada pelas vozes de Moura e Alinne Moraes.

O filme pode sim provocar risadas (é uma comédia, afinal), especialmente nas primeiras cenas do cientista no passado. Há uma ótima gag envolvendo as diferenças monetárias entre as duas épocas que irá passar batido para as crianças, que parecem ser o público-alvo da produção. Ou isso, ou o diretor Claudio Torres simplesmente menospreza e subestima terrivelmente o seu espectador.

Após assistir a “O Homem do Futuro”, é bem provável que você, assim, como eu, ficará desejando que realmente existisse uma máquina do tempo. Assim, poderíamos voltar ao passado e nos impedir de assistirmos a esse atentado ao cinema nacional.


7 respostas para “O Homem do Futuro”

  1. Muito obrigado por me salvar… desde o titulo pressenti que seria grotescamente horrivel (com isso o ditado “nao julgue o livro pela capa” acaba fazendo pouco sentido)

  2. Não concordo. O filme tem muitos elementos parecidos com o clássico “De Volta Para o Futuro”, mas não acho isso algo ruim. Achei a produção digna e o rítmo do filme torna a história envolvente. A música “Tempo Perdido” não é cantada pela Alyne Moraes e Wagner Moura, eles apenas dublam, e os cantores (que não sei quem são) não fizeram nada de errado. A atuação do Wagner Moura foi surpreendente assim como ele tem conseguido ser em todos os papéis que se sujeita a fazer. Cada um dos três personagens com uma personalidade diferente é algo que faz total sentido pela história do filme. E é mais uma prova da qualidade de atuação dele. Eu não esperava muito do filme, afinal é um tema bem ousado para um diretor nacional, mas ele fez um ótimo trabalho dentro do que foi sugerido pela trama.

  3. Opinião é opinião. E se levarmos em consideração a sua, que se encaixa adequadamente com o propósito do “slogan” do site, então você continua a fazer o que dá vontade de fazer: expressar a sua opinião…
    Mas eu, pelo contrário, adorei o cada parte do filme, principalmente todos aqueles que você criticou. É óbvio que há várias cenas que são inspiradas em filmes norte-americanos, mas eu encaro isso como uma homenagem. O filme é profundo e emocionante. Começa tímido e vai crescendo até o clímax, que a meu ver, é no encontro com o “Astronauta” Zero com a Aline Moraes no subsolo da faculdade, aonde diálogos maravilhosos e carregados de emoção na voz de Wagner Moura e Aline Moraes, conseguiram tirar lágrimas de mim. O sacrifício que ela deve fazer e a compreensão de Zero diante da ligação passado-presente causada pela máquina (mesmo que seja um argumento recorrente em outras produções norte-americanas) é genial. Enfim, eu amo ficção-científica e vou guardar com muito carinho esta iniciativa audaciosa do cinema brasileiro até o fim de minha vida. E, como eu falei, sua opinião, é sua opinião. Cada um vive feliz com suas opiniões. Até!

  4. Márcio,

    evidentemente, você, como todo mundo, tem o direito a discordar. Também tem o direito à sua própria opinião. Mas a ideia de que opinião é opinião e toda opinião tem o mesmo peso é uma falácia típica da era da internet, onde todo mundo se acha crítico de mídia especializado. O crítico de verdade tem uma “opinião” formada por anos de estudo e experiência – eu confesso que ainda não terminei meus estudos, mas estou quase lá. Se pra você não faz diferença a opinião do crítico e a de qualquer fulano na rua, então não sei porque perde tempo lendo sites de crítica especializada como o nosso.

    Também gosto muito de ficção científica, e a impressão que tenho, baseada em um repertório de centenas de livros e filmes do gênero, é a de que os realizadores deste filmes não entendem muito do assunto. Não é uma impressão subjetiva, e o objetivo do site não é me permitir expressar as minhas opiniões. Você tem razão numa coisa: minha prática aqui se encaixa sim com a proposta expressa no slogan do site, embora me pareça que você não tenha entendido muito bem esse slogan. Mas interpretação de texto é uma arte em declínio hoje em dia, o que explica muita coisa.

  5. Já que entramos na máquina do tempo para opinarmos sobre um filme de 2011, aqui vai a minha: o filme é uma merda. Achei uma ótima a crítica ter sido escrita da forma como foi, engraçada, ao contrário do filme. E se eu “perco” mais 15 minutos do meu “tempo” (sacaram, qualquer um pode ser engraçadinho com o título de uma música!) além das horas já perdidas com o filme é só para repudiar essa moda de se desqualificar quem trabalha para exercer a crítica, seja no cinema, literatura ou o que valha… E, sério, esse filme é tão ruim que conseguiu desagradar quem gosta de ficção científica ou do Renato Russo. Aliás, figura azarada no cinema, é cada bomba!

  6. Discordar só por discordar. Haha. Que piada!
    Imagina o que vocês teriam dito sobre o De Volta para o Futuro em 1985 – “ah, mas americano pode, nós não” – Deixem de ser vira-latas!

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