Paraísos Artificiais


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

“Paraísos Artificiais” é uma tentativa de ser a tal “obra que define uma geração”. No caso, a geração da música eletrônica. E se por um lado é irregular, previsível e com personagens pouco carismáticos, por outro, exatamente por isso consegue cumprir o que se propõe.

Ao retratar jovens perdidos, dispersos e extremamente individualistas, o filme olha – com muito carinho – para a superficialidade daquelas vidas que se constroem de rave em rave, com laços familiares frágeis e identidades múltiplas em constante metamorfose. É o sexo, drogas e psy, em uma constante experimentação de sensações que são mais consumidas do que vividas.

Para contar sua história de amor na era do artificial – afinal as drogas são sintéticas, a música é produzida por máquinas e os momentos de convívio e amizades são festas superproduzidas – o diretor Marcos Prado não poderia optar pelo romantismo clássico, acertando ao escolher focar em encontros e desencontros de relações fugazes.

Dividindo-se em três linhas temporais distintas que se desdobram em um flashback dentro de outro, “Paraísos Artificiais” acompanha a saída de Nando (Bianchi) da prisão e volta no tempo para explicar o passado do personagem em Amsterdam, quando conheceu uma DJ brasileira chamada Érika (Dill). A outra linha narrativa acompanha Érika e sua amiga Lara (Bueno) em uma rave no nordeste brasileiro. Que tudo vai se juntar no final não é surpresa para ninguém, mas o modo como as reviravoltas são organizadas é o principal problema do filme.

Tomando todo o cuidado para não apresentar um final “forçado”, “Paraísos Artificiais” dá tantas dicas do que vai acontecer que na metade da projeção você solta um “saquei” mentalmente que tira grande parte de sua imersão na história. Descobrindo logo tudo o que aconteceu, o filme se torna mais uma experiência plasticamente interessante graças à belíssima fotografia de Lula Carvalho (que contrasta o colorido natural do litoral brasileiro com as luzes artificiais na Holanda) do que exatamente um bom entretenimento.

Em outros momentos, a produção se perde nas cenas de “viagem” das drogas, quebrando o ritmo narrativo e se preocupando mais em mostrar uma sensação do que contar a história. E realmente funciona perfeitamente para passar essas sensações, construindo um clima que envolve e vai fazer você se sentir parte de uma rave. O problema é que estes momentos são interlúdios que prejudicam o andamento, freando a experiência.

Abrindo com um plano que foca no arame que cerca o muro de uma prisão, “Paraísos Artificiais” acaba sendo mesmo um retrato de uma geração que não consegue se libertar, pois mesmo aquilo que usam para se sentir “livres” é artificialmente produzido. E que o filme que retrata essa geração seja também superficial é apenas a comprovação disso.


2 respostas para “Paraísos Artificiais”

  1. Daniel,

    Faltou mencionar as atuações que não foram grande coisa. Se não fosse a Lívia Bueno, o melhor ator seria o peitinho da Nathalia Dill que, de tão expressivo, teve vários closes no longa.

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