A Possessão


Nossa avaliação

[xrr rating=2/5]

“A possessão” é daqueles filmes de que eu queria gostar por um motivo bem fútil: conheço tanto Jeffrey Dean Morgan quanto Kyra Sedgwick de séries de TV (Grey’s Anatomy e The Closer, respectivamente), admiro os dois e torço pra que eles consigam bons projetos no cinema. E de quebra, esse subgênero do terror religioso / exorcismo é algo que normalmente me ganha quando bem feito.

Pena que não seja o caso aqui.

O longa do dinamarquês Ole Bornedal, fazendo sua estreia em Hollywood, é uma bagunça picotada em frangalhos que não acrescenta nada à genealogia abençoada amaldiçoada por Linda Blair. O caos, verdade seja dita, pode nem ser sua culpa. O filme foi cortado para receber uma classificação mais leve nos EUA – e o resultado disso pode ser sentido na sequência-clímax, sem ritmo e com uma lógica temporal quebrada e frouxa. A única (e fraca) novidade trazida pelo longa é que, em vez da mitologia católico-satânica que popula esse tipo de produção, o demônio aqui é judeu – saído de uma caixa chamada dibbuk.

Ela é adquirida por Emily Rose (Callis), filha do casal separado Clyde e Stephanie (Morgan e Sedgwick). O que acontece a partir daí é a transcrição completa do manual mais velho da paróquia: a doce e singela menina se torna reclusa, sombria e agressiva, os pais se preocupam, se apavoram, procuram um especialista que explica um mito religioso/a trama do filme e tcharan… tá lá o momento “vade retro”. Tudo é extremamente previsível e o pouco subtexto presente no roteiro raso é a batida e conservadora ideia de que só a restauração da família pode vencer o mal.

Exorcismo headbanger.

Bornedal filma em supercloses, como se a câmera – assim como o demônio – estivesse prestes a possuir os personagens. Mas o uso excessivo do recurso acaba se tornando cansativo e pouco elegante. Os atores tentam extrair alguma coisa do diálogo pobre, mas não há muito a ser feito. Dean Morgan ainda amarga (sem trocadilhos) uma das piores cenas de “pai desesperado” quando vai a uma comunidade de judeus ortodoxos atrás de ajuda. Eles se recusam e Clyde começa a murrinhar (!!!) num momento “Denny Duquette” ridículo, em vez de brigar pela filha e ser um protagonista ativo e determinado, por quem o público possa torcer. E Natasha Calis não é nenhuma Linda Blair, especialmente com um roteiro pouco inspirado que não lhe dá muitas opções além de fazer cara feia.

Mesmo as cenas de enxames de insetos e mortes sangrentas, típicas do gênero, têm um sabor de dèjá vu e Bornedal não traz nada de original a elas. No fim das contas, quem se impressiona (e se assusta) fácil pode comprar o filme, com base no letreiro inicial de que a história foi “baseada em fatos reais”. Mas a realidade é que ter (possivelmente) acontecido não significa que tenha sido bem filmada.


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