Captain America: The Winter Soldier (2014) | |
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Direção: Anthony Russo, Joe Russo Elenco: Chris Evans, Samuel L. Jackson, Scarlett Johansson, Robert Redford |
Capitão América parecia ser o personagem mais complicado para uma adaptação para o cinema. Abertamente um representante do ufanismo dos Estados Unidos, o bandeiroso corria sérios riscos de ser mal recebido fora da terra do Obama: afinal como torcer para alguém que se veste de um imperialismo cada vez mais criticado em tempos de globalização?
Um dos acertos de seu primeiro filme foi exatamente criticar este imperialismo, colocando-o como o garoto propaganda de guerra que resolve agir pela fidelidade aos seus amigos e não por ordens do governo. Jogar o Capitão contra o próprio american way of life já funcionava nos quadrinhos, e agora é bem aproveitado em “O Soldado Invernal”. Após ser descongelado e enfrentar aliens ao lado de outros heróis, Steve Rogers é um homem que tenta entender o mundo em que se encontra, e aos poucos vai percebendo que o preto e branco da Segunda Guerra – com uma clara divisão entre o bem e o mal – já não faz mais sentido.
Em tempos de Snowden, a nova aventura da Marvel coloca o herói em uma trama de espionagem a la anos 70 (com direito a Robert Redford) em que ninguém é confiável. A Shield está em perigo – ou talvez ela mesma seja o perigo – e Steve Rogers vai contar com a já conhecida Viúva Negra e o novo amigo Falcão (Mackye) para tentar entender melhor o mundo cinza onde acordou.
É uma trama séria, bem construída, mas que se permite explosões de exageros para nos lembrar que, estamos sim, vendo um filme de super-herói. Finalmente a Marvel volta a acertar no equilíbrio das piadinhas, e apesar de manter algumas características da fórmula Disney, o resultado é de longe o mais satisfatório desde “Os Vingadores”.
Nunca vimos o Capitão América tão ciente de suas habilidades, e é espetacular acompanhá-lo em sua agilidade sobre-humana. A ação é sensacional e Chris Evans está muito à vontade no papel, desenvolvendo nuances ainda não aproveitadas em Steve Rogers. Mas não há aqui nada de original ou marcante, apenas um muito bem feito bê-a-ba que já existe desde o primeiro “Homem de Ferro”. Há referências por todos os lados (que vão do Dr. Estranho a “Pulp Fiction”) e duas cenas pós-créditos. Infelizmente, o elo mais fraco é justamente o Soldado Invernal do título.
Figura poderosa que deveria em si representar toda a dualidade de valores do mundo cinza atual, o vilão é pouco aproveitado, especialmente em sua relação com Rogers. A partir da metade, o thriller de espionagem é substituído por uma espécie de “Capitão América e seus amigos” e o filme cai um pouco. Mas nada que atrapalhe o prazer de se acompanhar uma aventura empolgante e a alegria de acreditar que a Marvel pode estar voltando aos eixos.