Mad Max: Fury Road (2015) | |
---|---|
Direção: George Miller Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult, Hugh Keays-Byrne |
Em seu quarto “Mad Max”, George Miller faz um “No Tempo das Diligências” ao estilo das surtadas perseguições entre Wile Coyote e o Papa-Léguas – mas em uma ópera metal sado masoquista. Neste western apocalíptico, Max é o pistoleiro silencioso e solitário que habita um futuro seco onde dor e prazer andam perigosamente juntos. Mas como o título “Estrada da Fúria” já entrega, a dona do trajeto é Imperatriz Furiosa, responsável por comandar a narrativa ao dirigir um caminhão em sua fuga de uma espécie de seita que possui carros saídos de uma ACME lisérgica.
A história é simples, mas o que torna “Mad Max – Estrada da Fúria” algo especial é a forma como o diretor conta tudo que é preciso com o mínimo de diálogos (mas algumas frases deverão entrar para o imaginário pop como “Testemunhem” e “Que dia adorável”), usando a ação como texto e subtexto. Assim como “No Tempo das Diligências”, o filme é uma crítica social entrelaçada ao mito da esperança pela fertilidade. A grávida, as sementes, a água que jorra e até o caminhão que dá leite materno para o herói beber: tudo converge para o feminino que dá a vida e cobre a terra. As mulheres perguntam: “Quem matou o mundo?” A resposta não precisa ser dada por ser óbvia demais, e Max, um dos representantes destes homens que dominaram e destruíram o planeta, torna-se um mero adendo, um chamariz-objeto tanto para os vilões quanto para os espectadores que ainda precisam de um herói masculino no cartaz.
Mergulhado em uma tonalidade que varia lindamente entre o laranja e o azul, Miller ainda encontra espaço para inserir metáforas atuais sobre homens-bomba, Coca-Cola, fanatismo religioso, violência sexual e rock n’ roll em uma obra que é um espetacularizado ensaio sobre o consumismo em todas as suas formas – não por acaso Max começa como um objeto, uma bolsa de sangue doadora universal. Essa objetificação total de tudo e todos, porém, não nos é dada em longos diálogos expositivos, mas em pleno movimento, com planos em que várias coisas acontecem ao mesmo tempo.
As informações estão constantemente atravessando a tela, mesmo em momentos mais calmos, como quando Furiosa deixa-se levar pelo abatimento e, apesar de imóvel, o deserto se move à sua volta com a ação do vento, lembrando ao espectador que o tempo continua a passar, assim como os acontecimentos que ela desencadeou. Da mesma forma os personagens são apresentados, dialogam e se aprofundam nas cenas de perseguição e luta no constante embate cinético que se dá na tela(e o mais incrível é que o diretor não faz confusão espacial, localizando a ação sempre que necessário). No meio disso tudo, Tom Hardy convence tranquilamente como Max (apesar de faltar o carisma de Mel Gibson) e Charlize Theron carrega o filme como Furiosa em uma atuação silenciosa e minimalista, mas eficaz.
Se em uma ópera tradicional as falas são cantadas ao invés de faladas, “Mad Max – Estrada da Fúria” traz a ação no lugar do canto, com os personagens principais tendo direito às suas árias (ações solo) ao mesmo tempo em que os coadjuvantes participam do enorme coro formado por carros, caminhões e “filhos de Joe”. Trata-se, sem dúvida, de um espetáculo único e grandioso, para se ver nos melhores palcos que esta arte fornece: a sala escura do cinema.
2 respostas para “Mad Max – Estrada da Fúria”
e o clima de ópera-metal é bem reforçada pelo sujeito que toca, em cima de um carro-PA, aquele híbrido “guitarra-baixo” acompanhado de tambores apocalípticos…
eu revi todos os filmes da série e encontro uma espécie de coerência entre eles. aquela crueza do primeiro (que me lembra muito o easy rider) é meio que transposta pra cá em um nível astronômico.
tem 3 dias que vi o filme e até agora rola um aperto de tensão aqui no peito!
[…] pensando). Os personagens femininos são clichês machistas, longe da Imperatriz Furiosa de “Mad Max” e da Rey de “Star Wars”. Os furos, as piadas sem graça e o modo de falar e agir […]