Biutiful


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

O primeiro filme do diretor Alejandro González Iñárritu sem o roteirista Guillermo Arriaga (“Amores Brutos”, “21 Gramas”, “Babel”) sente a falta de uma lapidação mais atenta na história. “Biutiful” passa longe de ser uma grande obra, mas a força da grife Iñárritu/Javier Bardem e uma ajudinha da Julia Roberts garantiram ao filme uma vaga na disputa do Oscar de filme estrangeiro e ator.

Jogadas de marketing à parte, a atuação de Bardem é mesmo primorosa e segura o filme com uma certa facilidade. Com fala pausada, expressão constantemente cansada e um tom de voz que raramente se eleva, o ator faz de seu Uxbal um homem que carrega o peso de todo o mundo nas suas costas. Ex-mulher bipolar, dois filhos pequenos para criar, pobreza e ainda a descoberta de um câncer terminal: percebe-se na descrição do personagem que Iñárritu abandonou as narrativas paralelas para concentrar todas as dores em uma só pessoa.

Uxbal é o elo que une africanos camelôs, chineses, o irmão hedonista e sua família desajustada. Todos os problemas e desgraças advindas dos outros personagens desembocam diretamente nele. E não satisfeito em ser um receptor dos problemas dos vivos, ele também precisa dar conta da dor dos mortos.

É isso mesmo. Assim como Clint Eastwood, Iñárritu aderiu à vibe espírita e o diretor aqui usa o mediunismo de Uxbal para relacionar consciência tranqüila com paz espiritual. Com a morte próxima, cabe ao personagem vivido por Bardem tentar limpar a consciência e resolver em pouco tempo suas pendências terrestres.

“Biutiful” aposta no didatismo para dar a todo o espectador a certeza de que aqueles personagens vivem em condições terríveis, degradantes, quase animalescas. Iñárritu faz questão de focar todas as texturas, em uma tentativa de ressaltar a sujeira, o calor, e até mesmo a dor. O sangue no vaso sanitário é, por exemplo, imagem recorrente e que incomoda, como se o diretor quisesse martelar nas nossas mentes que aquela é uma situação na qual nenhum de nós gostaria de estar. A ironia do título com a palavra “beautiful” escrita errada é que se há beleza no mundo, ela não faz parte daquela realidade habitada por aqueles personagens.

O problema é que, além de Uxbal, nenhum outro personagem é satisfatoriamente desenvolvido, cada um funcionando mais como um ingrediente colocado apenas para aumentar a dor do protagonista. No fundo, é um mais do mesmo do diretor, com uma atmosfera sufocante, personagens multirraciais e o pior da condição humana. O diferencial é mesmo Bardem, que interioriza as dores do mundo e entrega mais um personagem marcante para o seu currículo.


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