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Terrence Malick fez seu “2001 – Uma Odisséia no Espaço”. “A Árvore da Vida” é uma obra contemplativa e filosófica, que usa uma jornada pessoal para investigar a natureza humana, indo do início do mundo até o futuro (as proximidades com o clássico de Kubrick continuam nos efeitos visuais supervisionados por Douglas Trumbull, o mesmo de “2001”).
Mas enquanto no filme dos anos 60 a busca por um ser superior é externa, através de uma viagem interplanetária, “A Árvore da Vida” apresenta esta busca em uma jornada interior. O filme abre com uma oposição graça (ou divino) versus natureza, mas a tese de Malick, toda carpintada através de imagens belíssimas, é a de que Deus não se opõe a natureza. Ele é natureza. São a mesma coisa.
O diretor faz isso quase sem palavras, usando um off filosófico para questionar a existência – ou os planos – de Deus em uma narrativa que nos faz acompanhar o Big Bang, o surgimento da Terra, o aparecimento da vida, os dinossauros e sua extinção. Somos uma criação divina? Ou fruto de um mero acaso de mutações e acidentes químicos? Ou não seria tudo a mesma coisa?
A história, extremamente fragmentada, acompanha as memórias da infância de Jack (Penn), filho do casal formado pelos ótimos Brad Pitt e Jessica Chastain. É o garoto (McCraken) que, nos anos 50, começa a questionar a existência de Deus, e qual o nosso papel como criaturas divinas.
Não por acaso o diretor insiste em vestir seus personagens de azul. Eles (nós) são um pedacinho do céu (Deus), seja este céu algo divino ou partículas gasosas. Aliando Deus e natureza, o diretor opõe as invenções humanas ao divino, contrastando as linhas retas de casas e prédios (construídos pelo homem) com as formas curvas encontradas na natureza.
Os quatro elementos ganham também muito destaque. O fogo, a água, o ar e a terra surgem em planos belíssimos, como se fossem os membros de Deus em contato com suas criaturas, a natureza envolvendo a tudo e a todos.
A relação do pai (Pitt) com os filhos espelha esta relação de Deus com todos nós. Ele é um pai carinhoso, preocupado, mas também rude, bravo, silencioso, que escuta mais do que fala e pune sem motivos. Por sua vez, a relação entre os irmãos espelha nossa relação como seres humanos, criados à imagem e semelhança deste pai misterioso que não revela suas verdadeiras intenções. Nestas complexas relações metafóricas, o elenco segura o filme com competência. Estão todos ótimos em atuações minimalistas que se destacam contra a grandiosa música de fundo.
Malick não fez uma obra fácil. Seu cinema de cores e texturas é denso e pode desagradar quem espera uma narrativa mais tradicional e linear, com uma história redondinha a ser contada. Seu filme não apresenta respostas, mas nos enche de questionamentos. Para onde estamos indo? Para onde caminhamos nesta terra em que não temos certeza de um plano ou se tudo é mero acaso?
“A Árvore da Vida” traz uma mensagem e interpretações diferentes para cada um. É, antes de tudo, uma grande obra de cinema. Um filme que vai durar até o fim dos tempos.
2 respostas para “A Árvore da Vida”
[…] a busca do divino na natureza vista em “A Árvore da Vida”, “Amor Pleno” parece atrás de uma inversão, a natureza no divino. Para isso, Malick vai […]
[…] daquele mostrado na Comic-Con, apostando mais em um clima de mistério chupado do trailer de “A Árvore da Vida“. Mas já dá uma ideia de como será a visão de Zack Snyder para o […]