[xrr rating=3.5/5]
Contando com um longo prólogo para estabelecer os personagens, o local e sua intriga, “O Homem da Máfia” parece uma mistura de os Irmãos Coen com Quentin Tarantino: muita violência, falatório e trama estilo comédia de erros. O resultado, entretanto, é muito desequilibrado, e o estilo contemplativo do diretor Andrew Dominik em alguns momentos não casa bem com o ritmo mais dinâmico que a história pede.
Brad Pitt é o homem (não mais aquele que mudou o jogo, mas agora do crime organizado) responsável pela busca das pessoas que tiveram a infeliz ideia de assaltar uma casa de jogos da máfia. Sua busca é lenta, calma, com muito mais diálogos do que tiros e contando com um James Gandolfini caindo de paraquedas no meio do filme sem dizer a que veio e pra onde foi (a impressão que dá é que só queriam mostrar o Tony Soprano ali). A direção também não se decide entre o estilo seco-realista e a beleza plástica da violência. Duas sequências envolvendo assassinatos e carros são exemplares nesse sentido: em uma a bala fere em câmera lenta, explodindo em meio a gostas de chuva e estilhaços de vidros que parecem saídos direto de algum filme do Zack Snyder. Na outra, a morte é brutal, direta, sem firulas. A diferença de abordagem não possui objetivo narrativo, estando ali só para chocar ou deslumbrar.
Apesar disso, todo o elenco está excelente e o tom pessimista da obra funciona para sua leitura a respeito da atual situação social, política e econômica dos Estados Unidos. Situado durante a primeira eleição presidencial de Barack Obama, “O Homem da Máfia” faz um paralelo entre o assalto à máfia e a crise financeira do país (o roubo que vem de dentro), assim como aponta a violência como solução para a economia (as guerras). O otimismo com as possibilidades de mudanças com a eleição do novo presidente é aqui destruído pelo cinismo do personagem principal, um homem que vê a máfia (e o país) não como uma comunidade, mas uma corporação que valoriza o individualismo.
O problema é que a direção e o roteiro não confiam no próprio taco e jogam a sutileza pro lado ao insistir em martelar uma série de discursos políticos e econômicos que servem como corais gregos que pontuam as cenas. O didatismo é exagerado e lá pela terceira vez dá vontade de gritar “ok, eu já entendi que a história é só uma alegoria para o país!”.
Mas aí vem o monólogo final de Pitt, que eleva o filme acima da média. “O Homem da Máfia” não é uma obra-prima, mas tem uma das melhores conclusões do ano. Só isso já valeria o ingresso.
2 respostas para “O Homem da Máfia”
Eu assisti ao filme ontem, mas perdi justamente a parte que ele faz essa conclusão final, não estou achando em lugar nenhum… será que você poderia me repassar só essa parte??? Obrigada!!!
Achei louvável fazer um paralelo entre a máfia e a crise financeira, mas acho que o filme não consegue se aprofundar bem em nenhum dos dois temas.