In the Land of Blood and Honey (2011) | |
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Direção: Angelina Jolie Elenco: Zana Marjanovic, Goran Kostic, Rade Serbedzija, Vanessa Glodjo |
Por mais que se especule sobre seus decotes ou seu peso, não há como negar que Angelina Jolie, embaixadora da ONU e Mamãe Gansa de bebês étnicos fofinhos, tenta usar sua celebridade para alguns fins honrosos. O problema é quando ela tenta levar essa paixão humanista para as telas.
O resultado costuma ser catastrófico – vide “Amor sem fronteiras” – e a única diferença em “Na terra de amor e ódio” é que, em vez de dar a cara a tapa na frente das câmeras, Jolie assina o roteiro e a direção por trás delas. O produto resultante é tão ruim quanto – ou pior. Da história esburacada à direção engessada ao ritmo irregular e diálogos expositivos, não há o que elogiar nessa estreia na direção, a não ser as boas intenções.
O filme conta a história de Ajla, pintora muçulmana que conhece Danijel, militar sérvio, às vésperas do início da Guerra da Bósnia. Com o estouro do conflito, ela se torna prisioneira dele, e eventualmente sua amante, em um estranho romance que tem como pano de fundo a barbárie dos estupros e genocídio praticado pelo exército sérvio.
Em nenhum momento, Jolie consegue encenar convincentemente a corte desse inusitado casal. Os primeiros encontros entre Ajla e Danijel no quartel, em situações que a câmera fixa e os enquadramentos idênticos tornam ainda mais repetitivas, parecem filmados por um estudante inseguro do primeiro ano de Cinema. Com isso, a relação prisioneira-e-torturador nunca é realmente superada e o relacionamento entre os dois tem um aspecto repugnante e psicologicamente violento que impede o público de se importar com eles.
Isso se torna mais problemático quando Ajla tem a chance de fugir e não o faz, ou ainda quando tenta e depois volta pra ele. Experimentando doses de culpa a cada notícia que ouve sobre o massacre acontecendo no país, ela nunca faz nada a respeito e acaba se tornando uma protagonista altamente passiva cuja moral é difícil de não ser condenada pelo espectador.
Os outros personagens – em especial, a irmã de Ajla – são usados como bonecos para exemplificar graficamente a violência do conflito, sem nunca ganharem profundidade. Histórias como a conversa entre os muçulmanos que resgatam a protagonista sobre um plano para atacar os sérvios não se resolvem e são abandonadas nos saltos temporais. E buracos enormes, como Danijel reconhecer em um museu o retrato que Ajla pintou da irmã (mesmo que nunca se dê a entender que ele a tenha conhecido antes), esgotam a boa vontade restante.
“Na terra de amor e ódio” foi filmado em uma versão em inglês e outra em bósnio/sérvio – e talvez os diálogos e atuações sejam menos engessados na língua original do elenco. No Brasil, porém, as cópias disponíveis são em inglês e o que se vê na tela é tão raso, explorador e narrativamente pobre que chega a ser uma ofensa às vítimas de um dos conflitos mais sangrentos das últimas décadas. Jolie erra ao contar uma história que não é dela, usando uma linguagem que não domina. Angie não é Ben Affleck e, pela primeira vez, isso é algo ruim.