[xrr rating=3/5]
Um dos grandes trunfos do recente “Invocação do Mal” foi transformar um dos maiores problemas do terror sobrenatural – a figura do especialista/médium/psiquiatra que, desde o final de “Psicose”, sempre foi mais uma muleta de roteiro do que um personagem orgânico e bem desenvolvido – não apenas em algo interessante, mas nos protagonistas da história. Dirigido pelo mesmo James Wan, “Sobrenatural: capítulo 2” tenta caminhar na mesma direção.
Por boa parte de sua 1h45, o longa deixa de lado as aflições da família Lambert para focar na busca pelas raízes do mal empreendida por um grupo de “caça-fantasmas”. Apesar de eles não serem nem de longe tão envolventes quanto o casal Warren, o resultado é um longa mais bem resolvido que o primeiro, culminando em um clímax satisfatório – sem, ao contrário da orquestra afinada do trabalho anterior de Wan, destacar-se em meio aos (vários) exemplares do subgênero.
Após um breve prólogo em flashback, o filme reencontra os personagens poucas horas depois do final do capítulo anterior. Renai (Byrne) tenta voltar a vida ao normal enquanto suspeita da responsabilidade do marido Josh (Wilson) na morte da médium Elise (Lyn Shaye). Contudo, as assombrações não abandonam a família, levando a esposa a questionar se foi mesmo Josh que voltou do além com o filho e a avó Lorraine (Hershey) a buscar a ajuda de um velho parceiro de Elise para desvendar o mistério.
Este “Capítulo 2” trata o primeiro longa como um mero primeiro ato da história (e, se você não viu a produção anterior, nem passe perto), funcionando como se as assombrações e a investigação dos Warren em “Invocação do Mal” fossem estendidas por quase duas horas. Por um lado, os caça-fantasmas da vez não são desenvolvidos o bastante para carregar boa parte do filme, com piadinhas que não funcionam. Para resolver isso, o longa coloca a avó Lorraine ao lado deles e é a competente Barbara Hershey que conduz o público em longas cenas expositivas. Por outro, o roteiro amarra este capítulo com várias pontas soltas do anterior, especialmente no ato final. Se o recurso torna as duas produções partes incompletas, pelo menos faz do todo uma história mais sólida e interessante.
Mas não há muita originalidade aqui que possa agradar para além dos fãs. A história do fantasma é uma homenagem a um grande clássico do gênero. Rose Byrne não é nenhuma Lili Taylor, e a trilha de Joseph Bishara troca a organicidade à história por uma intrusão que tenta ressaltar a surpresa pouco presente nas imagens.
As comparações com “Invocação” podem parecer excessivas, mas além de Wan e Bishara, o diretor de fotografia, o editor e o ator principal são os mesmos nas duas produções. Aliás, Patrick Wilson, um ator simpático e subestimado, é quem se destaca aqui. Ele aproveita os desafios e a dualidade do protagonista para demonstrar seu talento e, num mercado sem muitos papéis para atores medianos como ele, vai construindo uma carreira como um James Stewart para o Hitchcock B de James Wan.