Pilulista: melhores filmes de 2013


A TV é o novo cinema. A programação das salas é deprimente. Quantas versões diferentes de longas de super-heróis ou comédias nacionais podem ser feitas? O cinema está morrendo. Longa vida ao cinema.

Quantas vezes você ouviu alguma das expressões acima nos últimos meses? A verdade é que 2013 foi um ano excelente para o cinema. E para quem ainda duvida, a edição deste ano da Pilulista traz números contra os quais é difícil de argumentar. Nos top 10 dos onze votantes da nossa “Academia de Cinéfilos Desajustados”, foram citados um total recorde de 52 filmes. Deles, nove foram produções nacionais.

Nunca a disputa pelo primeiro lugar foi tão acirrada. Três longas brigaram pela medalha de ouro até o último voto. No final, dois deles protagonizaram um empate técnico inédito na nossa lista e o primeiro lugar foi decidido no tapetão nos critérios técnicos. E se as três produções se distanciaram na dianteira, a dança das cadeiras nas posições abaixo foi tão apertada que era quase impossível prever como seria a lista final.

Mas não são apenas números. Depois de ler o top 10 abaixo, experimente conferir as listas individuais dos nossos participantes. O Pílula tem muito orgulho de poder fazer uma votação que mistura especialistas, cinéfilos com profundo conhecimento de causa, com fãs de cultura pop e meros apaixonados pelo cinema. O resultado desse coquetel de pílulas não tem a cara individual de nenhum dos votantes, mas revela o perfil da diversidade que o Pílula Pop deseja ser.

Quatro histórias de amor, três estudos da natureza humana – completamente diferentes um do outro – e duas explorações das possibilidades da linguagem cinematográfica compõem nossa lista (além de dois vencedores da Palma de Ouro em Cannes). Somados à multiplicidade de produções citadas pelos participantes, isso só prova que o cinema não está morrendo. Ele está se reinventando. Sendo uma coisa nova e inesperada a cada dia, cada filme, cada ano. E isso é extremamente instigante.

O cinema está morrendo. Longa vida ao cinema. Com nossos agradecimentos a todos os que votaram e sem mais delongas, a Pilulista de melhores filmes 2013. Até o próximo ano, com mais bons filmes, e boas festas!

10 O Mestre (The Master, dir. Paul Thomas Anderson, EUA, 2012)

Muito mais complexo que um filme sobre religião – ou sobre uma religião – a obra de Paul Thomas Anderson é um retrato da guerra que existe dentro de todos os homens. Entre o médico e o monstro, a besta e o cientista, a razão e o instinto. É um estudo sobre os impulsos mais irracionais que nos fazem humanos, e como nós lutamos para reprimi-los e nos tornarmos “civilizados”. Daí, sim, a necessidade da religião. Em performances complementares e impecáveis, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman encarnam essa dualidade e transformam em emoção a análise que Anderson realiza em suas imagens. É qualidade o bastante para, com apenas três votos, levar a nossa décima posição.

Enquanto isso, na internet…
Pedro Snazalac ‏(@PedroEleMesmo 9 jul)

Ontem assisti o (sic) filme “O Mestre” que trata sobre os primórdios da cientologia e estou até agora esperando meu cérebro cicatrizar.

9 A Caça (Jagten, dir. Thomas Vinterberg, 2012, Dinamarca/Suécia)

A melhor definição para “A Caça” é um pesadelo sem saída. Para o público, ao menos, existe o fim da sessão – mas mesmo assim, é difícil abandonar o medo de se imaginar naquela situação nos dias e semanas que se seguem. Para o protagonista vivido pelo excelente Mads Mikkelsen, a situação é um pouco pior. Monitor de um maternal acusado injustamente de pedofilia, ele se vê num catch-22, em que qualquer coisa que ele diga ou não diga, faça ou não faça, só torna tudo pior. E o grande mérito do diretor Thomas Vinterberg é colocar o espectador na pele do personagem, além de questionar o que faríamos diferente se fôssemos o pai de uma das crianças. Assim como “O Mestre”, “A Caça” é um estudo que revela os benefícios e os vícios, a racionalidade limitada e a imperfeição da nossa necessidade pelo que se convencionou chamar de civilização.

Enquanto isso, na internet…
Lucas Scaliza ‏(@lucasska 14 dez)

Um dos melhores filmes que vi em 2013 é: “A Caça”, filme sueco. Bão! Tem um final minimaista (sic) que resume a situação de uma forma espetacular.
Papai Moncléu ‏(@Monclarluiz 21 mar)
Apologia RT @JornalOGlobo: ‘A caça’: @bonequinho aplaude de pé filme sobre professor acusado de pedofilia.

8 Azul é a cor mais quente (La Vie d’Adèle, dir. Abdellatif Kechiche, França/Bélgica/Espanha, 2013)

Esse é o primeiro dos dois vencedores da Palma de Ouro em Cannes na nossa lista que afirmam que amar é doer – e que são conduzidos por uma espetacular performance feminina. Mas enquanto no outro filme, amar é uma forma de vencer a morte, no longa de Abdellatif Kechiche amar é descobrir a vida, nas suas dores e imperfeições. Se a narrativa da obra sofreu críticas de um certo olhar fetichista e de gorduras desnecessárias, é a surpreendente estreia da jovem Adèle Exarchopoulos como a protagonista homônima que dá ao filme uma vida e uma honestidade que superam e contaminam toda a história ao seu redor. É no rosto dela que “Azul é a cor mais quente” escreve uma narrativa universal e complexa dos desafios de crescer, de descobrir sua sexualidade, de cometer erros e de aprender que tão difícil quanto manter uma relação é descobrir quem você é. E que não existe um sem o outro.

Enquanto isso, na internet…
ana guadaloopy ‏(@anaguadalupe)

“azul é a cor mais quente” podia chamar “feche essa boca, adele”
They call me Carna ‏(@camayuszka)
“Azul é a cor mais quente” parece nome de pornochanchada.
Fábio _Souza ‏@fabiosje
Aqui na Reserva Cultural esperando meu filme e aparece o Raí (!) e entra pra ver o ‘Azul é a Cor Mais Quente’. #idolo

7 Tabu (dir. Miguel Gomes, Portugal/Alemanha/Brasil/França, 2012)

Um filme português pouco visto no Brasil arrebatou nossos votantes com sua forma de apresentar o passado suspenso no espaço. Uma Europa musealizada olha para uma África idealizada quando descoberta e nostalgia se misturam em uma narrativa que sai do presente e mergulha de uma hora para outra no encontro da memória com a nostalgia. Na mediação, o cinema mudo. Esta arte do olhar do imaginário que nos apresenta uma história de amor não do que foi e nem do que é. Mas que é da própria textura do sonho. E com “Tabu” sonhamos. E lembramos. (Renné França)

Enquanto isso, na internet…
Fernando Oliveira ‏(@fefito 20 out 12)

E OMG pra todos que tão incensando Tabu, do Miguel Gomes, como melhor filme de todos os tempos da última semana. Nem é essa coca cola toda.
Marcelo Hessel ‏(@marcelohessel 19 out 12)
TABU, de Miguel Gomes: a primeira vez é cerebral, o bicho pega mesmo é na segunda.

6 Antes da meia-noite (Before midnight, dir. Richard Linklater, EUA, 2013)

É fácil desfazer de “Antes da meia-noite” como um amontoado de diálogos ou uma DR interminável. Difícil é reconhecer que, por trás dos longos planos-sequência e das impecáveis interpretações de Julie Delpy e Ethan Hawke, existe uma série de simbolismos visuais que fazem da produção não só um dos melhores roteiros – mas, sim, um dos melhores filmes do ano. Da escolha da Grécia como locação à ideia do “amor que, assim como o nascer e o pôr do sol, desaparece”, o longa de Richard Linklater é uma investigação rica e cuidadosamente imaginada se existe vida após o romance. Despretensiosamente, a história de Jesse e Celine se tornou um dos experimentos mais interessantes do cinema. Nos seus 20 anos, ao tratar de questões geracionais, relacionamentos, políticas de gênero e feminismo, a (até hoje) trilogia é um dos retratos mais fiéis das questões que definem toda uma geração – e no UFC verbal do terceiro ato de “Antes da meia-noite”, mostra que não tem medo de fazer as perguntas difíceis. E, sim, é um dos maiores romances do cinema. Que venham os próximos três filmes.

Enquanto isso, na internet…
Tiago Faria ‏(@superoito 25 jun)

Eu bolando mil teorias sobre ‘Antes da Meia-Noite’, aí minha namorada: “Ela surtou, Tiago. Acontece”. Pronto. Explicado.
Lu Monte ‏(@lumonte 30 set)
tava achando before midnight forçado pq onde já se viu um casal conversar tanto depois de 10 anos juntos, mas de repente ficou bem realista.

5 A Hora mais escura (Zero dark thirty, dir. Kathryn Bigelow, EUA, 2012)

No ano em que o messianismo do governo Obama foi desmascarado nos escândalos envolvendo a espionagem da NSA, o plano final do longa de Kathryn Bigelow se confirma cada vez mais como a imagem-símbolo dos EUA hoje. No rosto da excepcional Jessica Chastain, a pergunta incômoda e não respondida: “no que eu me transformei e para onde eu vou?”. É o resultado de dez anos de guerra ao terror sobre um país, um processo meticulosamente detalhado nas 2h40 de filme. Bigelow faz um cinema muscular e cirúrgico na sua precisão e no diagnóstico moral que faz de uma nação. Mais que um retrato procedimental, “A Hora mais escura” usa a protagonista Maya e sua obsessão como a analogia dos EUA pós-11 de setembro e, não por acaso, o filme saiu de mãos abanando nas principais categorias do Oscar. É uma verdade que os norte-americanos ainda não estão dispostos a digerir.

Enquanto isso, na internet…
gabriella ‏(@stopthewworld 7 set)

vi o filme a hora mais escura e o final foi besta
TERROR DOS PROIBIDÃO ‏(@OfcMcTaioba 26 jul)
vo (sic) assistir um filme pesadão agora… A HORA MAIS ESCURA só ataque dos terrorista (sic) forte abraço pra quem fica !!!

4 Django Livre (Django Unchained, dir. Quentin Tarantino, EUA, 2012)

É o seguinte: isso aqui é, acima de tudo, uma Pilulista. E não há Pilulista sem um filme de Quentin Tarantino. Na sua paixão obsessiva por referências e misturas inusitadas, o cineasta faz um faroeste que é, na verdade, uma ópera e uma história de amor com mito germânico como pano de fundo. Retornando mais uma vez ao seu tema favorito, a vingança, Tarantino repete o revisionismo de “Bastardos Inglórios”, denunciando uma barbárie histórica por meio do retrato da violência redirecionada no sentido oposto. Pecando somente em um terceiro ato repetitivo, “Django Livre” traz ótimas atuações (destaque para um injustiçado Leonardo DiCaprio), a fotografia pintada de Robert Richardson e uma das melhores trilhas do ano – o fato de que “Ancora qui” de Ennio Morricone não foi nem indicada ao Oscar mostra que eles não sabem o que tem a ver o cú com as calças.

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Victória Peagno ‏(@victoriapeagno 25 nov)

só tenho uma coisa a dizer: a namoradinha do Django deveria ter morrido, vaca que causou tudo. Não o doutor 🙁
Vinícius Bernardi (‏@vini_bernardi 13 out)
Meee, e o filme do Django? Pensei que ele iria atirar nos produtores nos câmeras e depois pular da tela da tv e atirar em mim, que nossa né
lettie ‏(@carstondale 16 set)
sobre o filme django: o povo leva um tiro mas n morre por causa dele, morre é de hemorragia

3 Amor (Amour, dir. Michael Haneke, França/Áustria/Alemanha, 2012)

“Love is a province of the brave”. Não fui eu que disse, foi o TV on the Radio. O longa de Michael Haneke não é fácil, nem sempre é agradável, mas é uma das experiências cinematográficas mais potentes do ano. O austríaco faz seu cinema frio, observador – sem tentar nenhum dos malabarismos de seus primeiros filmes – enquanto encara o espectador no fundo dos olhos e revela a maldição implícita da expressão “até que a morte os separe”. Para isso, ele retrata o amor como o exemplo maior da arrogância humana diante da inevitabilidade da morte. Um destino que o personagem de Jean-Louis Trintignant tenta vencer inutilmente, como um homem tentando capturar um pombo com as mãos – uma imagem de um humor cruel que só podia sair da mente de Haneke. Aprisionados no “Amor” do cineasta, materializado no apartamento de onde o longa nunca sai e que se torna ao mesmo tempo a mortalha e o inventário de seu relacionamento, Trintignant e Emmanuelle Riva dançam um tango dolorido e belíssimo rumo à morte, que leva nossa medalha de bronze.

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Paty ‏(@bringthecat 21 ago)

Alguém aí viu “Amor” do Haneke? O final é esquisito assim mesmo ou o video do avião deu tilt? (Conhecendo o diretor, deve ser assim mesmo)
diegosapiamaia ‏(@diegomaia 12 jan)
Essa chuva tá tão chata que vou ver “Amor”, do Haneke, para animar o dia.

2 Gravidade (Gravity, dir. Alfonso Cuarón, EUA, 2013)

“A vida no espaço é impossível”. É impossível existir sem algo que nos fundamente, que nos impulsione, que nos suporte. É impossível viver sem um motivo. E é por isso que, dentre seus vários planos de uma beleza inexplicável com palavras, a imagem mais potente de “Gravidade” seja um pé tocando e sentindo de novo o chão, e conseguindo se colocar de pé sobre ele. Porque o filme de Alfonso Cuarón é sobre isso: sobre reencontrar aquilo que ao mesmo tempo nos sustenta e nos faz querer viver. É uma narrativa primal advinda de um sentimento universal, e o longa é tão popular e intelectualmente bem sucedido porque reúne isso ao que de mais inovador e revolucionário o cinema tem a oferecer hoje. É o encontro da mais básica narrativa, um conto de sobrevivência, à tecnologia cinematográfica mais pioneira. Cuarón ainda foi abençoado com a melhor performance da carreira de Sandra Bullock e com o fato de que existe no mundo um homem chamado Emanuel Lubezki e ele é um diretor de fotografia. “Gravidade” foi mencionado em sete das nossas 11 listas, foi o melhor filme de 2013 segundo três delas e só perdeu a medalha de ouro porque teve uma menção a menos que nosso primeiro lugar.

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David Santos ‏(@odavidsantos 14 dez)

Vi o #Gravity, finalmente. Sem spoilar (sic), o meu resumo do filme é este: Sandra Bullock no espaço completamente maluquinha dos cornos
Arthur Tuoto ‏(@arthurtuoto 8 dez)
até no quesito filme video game do ano gravidade perde feio pra after earth né
Vinícius Perez ‏(@chinisalada 12 out)
e pensar que a gravidade do título é a mesma gravidade que matou a filha da personagem da sandra bullock, que caiu e bateu a cabeça

1 O Som ao redor (dir. Kléber Mendonça Filho, Brasil, 2012)

“O Som ao Redor” pode ser visto como uma alegoria da história do Brasil em duas horas. Um estudo sociológico da sociedade brasileira contemporânea. Ou simplesmente a melhor sátira social que o cinema nacional já fez. Porque o filme do pernambucano Kléber Mendonça Filho é tudo isso. E mais: ele é o melhor longa que a filmografia brasileira produziu em muito, muito tempo. É daqueles filmes em que é quase impossível apontar um defeito, uma nota fora do tom, uma cena fora do ritmo, um corte fora do lugar. Ao mesmo tempo, é fácil apontar milhões de virtudes. A cena da reunião de condomínio é uma síntese de tudo que há de errado com o Brasil. É daquelas produções que, daqui a 50 anos, vai ser estudada e assistida e analisada, e talvez seja ainda mais aclamada que hoje. É uma obra de arte e um registro histórico de valor incalculável. E que nossos participantes queiram dar a medalha de ouro para ele não é ufanismo: é o reconhecimento desse mérito inquestionável. Curiosamente, “O Som ao redor” apareceu em oito das 11 listas, mas em nenhuma delas ele foi o melhor do ano. O longa venceu pela regularidade e universalidade. Cinco anos atrás, quando fizemos a primeira Pilulista, um filme (semi)nacional levou o primeiro lugar. Foda-se o Oscar: é muito bom poder reconhecer uma merecida produção brasileira novamente com a honraria.

Enquanto isso, na internet…
Arnaldo Branco ‏(@arnaldobranco 5 jan)

O som ao redor me lembrou o Neymar: é evidentemente muito bom, mas sofre com a expectativa geral de que ele redima o Brasil
Gabeyoncè ‏(@hengles 8 dez)
No momento, me sentindo bastante burra por ñ ter entendido a genialidade de O Som ao Redor. Achei um puta filme chato. Dsclp sociedade.

Confira a lista dos participantes voto a voto clicando aqui.


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