Ant-Man (2015) | |
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Direção: Peyton Reed Elenco: Paul Rudd, Michael Douglas, Evangeline Lilly, Corey Stoll |
Ao tentar transpor seu universo compartilhado dos quadrinhos para o cinema, a Marvel acabou acertando em cheio na cultura da convergência. Lá naquela cena pós-créditos de “Homem de Ferro” o estúdio desencadeou um sistema de produção que deu muito certo por apelar à mistura de interatividade e efemeridade tão caras ao nosso mundo atual.
Afinal, não são assim as redes sociais? Quando se posta no Twitter ou Facebook, por exemplo, o que se pretende é ser parte de um todo: ser curtido, comentado, retuitado, e curtir, comentar e tuitar. Completamos e somos completados em frases, textos e assuntos que geram polêmicas, discussões acaloradas e… nada mais. No dia seguinte há uma nova polêmica, uma nova discussão e ninguém sai morto ou corre verdadeiramente perigo independente das confusões que arruma. É essa “estética de rede social” que a Marvel cumpre à perfeição com “Homem-Formiga”.
O filme é um pedaço do amplo universo cinematográfico que está sendo construído e não tem medo de se assumir como uma mensagem de 140 caracteres que seja divertida para atingir o máximo de pessoas possível. É daqueles tuítes que a gente adora e retuíta e ainda dá print pra postar em outros lugares. Na medida para um público que abomina um “textão” e quer encontrar exatamente o que espera.
Hank Pym (Michael Douglas) é o herói original que passa o manto, ou melhor, a armadura para Scott Lang (Paul Rudd) na tentativa de impedir que sua criação capaz de miniaturizar seres humanos e objetos caia nas mãos das pessoas erradas. E aí entra em ação a fórmula Marvel-Disney com piadinhas o tempo todo, muita ação e carisma. A falta de personalidade do diretor Peyton Reed funciona perfeitamente para o que estúdio quer (e explica a saída da direção do mais autoral Edgar Wright por “divergências criativas”): “Homem-Formiga” faz perfeitamente ao que se propõe, pena que não propõe muita coisa. A primeira vez em que o herói diminui é um daqueles grandes momentos “uau” do cinema, com a câmera de Reed explorando bem a imensidão que pode ser uma banheira. Mas os ângulos inusitados não vão muito além disso e as imagens só vão surpreender novamente no finalzinho, em uma incursão científico-psicodélica que consegue ser ao mesmo tempo bela e assustadora ao propor uma dimensão da realidade.
Mas no geral o filme é mais uma engrenagem da linha de produção Marvel, um capítulo que faz te querer ver o seguinte (reforçado pelas cenas durante a após os créditos) e no processo te dá duas horas de boa diversão dentro do cinema. Há um clima de mistério em relação ao personagem de Pym que é interessante e o roteiro é esperto ao trabalhar o subgênero de “filme de roubo” dentro do formato “super-herói”, criando a falsa impressão de que estamos vendo algo diferente. Mas não estamos: continuam lá todos os cacoetes dos filmes Marvel, com os coadjuvantes engraçados dispensáveis, drama familiar, ação pirotécnica, protagonista sensível – mas autoconfiante, vilão careca sem graça.
“Homem-Formiga” é bom e efêmero. Pra ser engolido junto com a pipoca e o refrigerante ou postado rapidamente no celular. Funciona, mas como toda fórmula repetida, começa a cansar. Quem sabe os “textões” não ficaram pra Warner-DC?