Um ensaio sobre a felicidade


Você é feliz? É, eu sei, pergunta difícil de responder. Ainda mais atualmente no brasil. Mas, mesmo em tempos difíceis felicidade é muito maior do que fatos e acontecimentos. Felicidade é praticamente o estado de espírito em que você percebe e traduz os acontecimentos ao seu redor. Não, este texto não é um texto motivacional do estilo “copo meio cheio”, mas é praticamente um ensaio sobre o que é a felicidade, ou melhor, o que parece ser felicidade aos olhos dos outros. Ensaio esse que foi feito por Mateus Acioli em Todo Mundo é Feliz.

Marinheiros, Ursos e Amélias

Todo Mundo é Feliz é uma HQ curtinha lançada pela Balão Editorial em 2011, sob o selo Coleção Zug. Este selo tinha como objetivos publicar histórias curtas, rápidas e pessimistas, tão como a jogada de xadrez que, não importa o que o jogador faça, por estar encurralado, irá perder o jogo.

Mateus Acioli faz praticamente um livro ilustrado com closes de seus diversos personagens. Não parece que você está lendo uma HQ, mas sim, vendo realmente um ensaio fotográfico bizarro. Bizarro porque a palavra “felicidade” da capa pode mostrar que as coisas não são lá tão felizes assim.

Autores, Astronautas e Cowboys

Para fazer os leitores pensar sobre a reflexão da felicidade, Acioli coloca ao lado de cada personagem uma vontade, um sonho. Uma resposta sobre o que faz cada um feliz. O que traria felicidade para um marinheiro, para um urso ou para uma Amélia?

Porém, a provocação não é essa. A questão da felicidade não é simples. E Acioli mostra que não, pois tal qual um catálogo de informações que a gente folheia, ou passa o dedo em swipe para a barra de rolagem subir, Todo Mundo é Feliz traz o superficial.

Aquele bê-à-bá clássico sobre a grama do vizinho ser sempre verde, sabe? Quando você olha a vida do outro é fácil identificar, ou pelo menos achar que consegue identificar, a felicidade alheia. Mas enquanto a nossa? Não, a nossa é complexa e distante.

Gêmeas, Luchadores e Soldados

Todo Mundo é Feliz acaba sendo uma HQ mais sobre o próprio leitor do que sobre os personagens ali ofertados página a página. Enquanto você folheia e vê como, superficialmente, cada pessoa tem uma felicidade que pode ou não ser fácil, mas que existe, nós somos levados para nosso interior para tentar identificar o que nos faz feliz.

Será o uso de uma gola rolê? Um riso solto e fácil? Ou ainda os poucos pares de roupa de baixo que você tem no guarda-roupa? E se não for apenas uma coisa, mas várias delas?

É exatamente aí que cai a primeira ficha (com o perdão dessa expressão velha) da HQ: a felicidade não é apenas uma coisa.

Quando analisamos superficialmente alguém, como Acioli nos leva a fazer em seu quadrinho, buscamos o que não temos no outro. E achamos que o outro é feliz por ter um relacionamento. Que aquela pessoa que passa por você é feliz por ter casado e ter filhos. E tem aquela que é cheia de dinheiro dentro de um carro do ano. Ou ainda aquela outra que consegue manter um sorriso e uma aparente saúde mental em torno de tanto caos que acontece.

Mas essa análise é sempre nossa, sempre interna. E tentamos identificar nos outros aquilo que buscamos em nós para ser feliz.

Mas, e se a felicidade não for nem coisas? Se ela não for nada que possamos pensar, ter, fazer ou conquistar? Daí cai a segunda ficha.

Theresas, Bandas e Pássaros

Realmente acredito que felicidade não tem nada a ver com coisas que possamos ter, e lendo e relendo Todo Mundo é Feliz, acredito que para Mateus Acioli também não.

Felicidade tem a ver com satisfação. Sobre o que te faz ficar satisfeito ou satisfeita com algo. Esse algo sendo pouco, muito ou nada. Esse algo sendo um local distante ou perto. E até mesmo sendo só você.

Me deparar com essa HQ curtinha na véspera do Dia dos Namorados, uma data cheia de demonstrações de felicidades falsas ou de pessoas que querem essa tal felicidade alheia, caiu como uma luva para eu entender que a grama do vizinho vai ser sempre mais verde. Isso porque estamos mais preocupados em mostrar, julgar e ser melhores do que simplesmente nos dedicar a regar a nossa própria grama buscando a satisfação.

Tico Pedrosa é publicitário, roteirista, escritor, professor e criador de conteúdo. Fã de quadrinho desde sempre. Você pode conferir as ideias dele no instagram e twitter.


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