[xrr rating=4.5/5]
“A rede social”, assim como We used to wait, diz muito do que nós (uma geração? Uma sociedade? Uma tribo?) nos tornamos nos últimos dez anos. Mas enquanto a canção do Arcade Fire faz isso por contraste, refletindo sobre como éramos e não somos mais, o filme se concentra em ilustrar o que Win Butler quer dizer com “now our lives are changing fast/ Hope that something pure can last”. A palavra do longa de David Fincher é rapidez. Do clique que acaba com um namoro sem falar com o parceiro ou larga o emprego sem comunicar ao chefe – simplesmente anuncia para um fórum bizarro de 100 ou 200 estranhos (que sabem mais da sua vida que seus pais), tornando-o fato.
A velocidade pode ser maior, mas essencialmente o que nos define como sociedade permanece: a escolha entre o bom e o certo. Esse é o cerne do roteiro de Aaron Sorkin ao acompanhar Mark Zuckerberg (Eisenberg) que, optando sempre pelo segundo, criou o Facebook e se tornou o bilionário mais jovem da história.
Qualquer diretor medíocre consideraria um monte de meninos trancados em dormitórios na frente do computador infilmável. Fincher, porém, conduz a história, e os diálogos principalmente, com o ritmo de quem administra oito abas no navegador ao mesmo tempo, assistindo a um vídeo no youtube enquanto manda um email e atualiza o twitter. No country for old men.
Como em “Zodíaco”, ele usa um mito para observar o que ele diz de sua época. A câmera perscruta uma Harvard escura, sombria e a estuda como um microcosmo da nossa sociedade – organizada e hierarquizada segundo a posse de um “email @harvard.edu”, de um smartphone que te permita se informar antes dos outros (a marca é fundamental) ou de uma grife de respeito no seu diploma. Os critérios mudam, as castas permanecem. No roteiro de Sorkin, Zuckerberg é alguém que entende isso e não vê nada de errado em usar todos os recursos ao seu alcance para galgar degraus nessa cadeia.
Esse olhar sobre Harvard – que, com o auxílio da ótima trilha de Atticus Ross e Trent Reznor do Nine Inch Nails, torna-se quase antropológico, como se algo muito próximo de nós de repente se tornasse estran(ho)geiro – é a melhor parte de “A rede social”. Quando a paleta ‘esquenta’ com a ida para Palo Alto, esse ineditismo do filme, seu caráter inesperado, cede espaço a alguns lugares comuns que, se não comprometem a produção, diminuem seu ritmo.
Por fim, Jesse Eisenberg é uma escolha perfeita como Zuckerberg. E não porque consegue disparar os diálogos afiados de Sorkin a 200 km/h. Mas porque expressa a humanidade e a genialidade do protagonista ao mesmo tempo em seu rosto. Seu Mark não é um robô, é alguém que reconhece os sentimentos alheios, só não entende o porquê deles: uma mistura do Sheldon de “Big bang theory” com Charles Foster Kane. A performance do ator no plano-Rosebud final, sublime, é a prova (ainda que ficcional) de que algumas coisas nunca mudam: “sometimes they never came”.
3 respostas para “A rede social”
“uma mistura do Sheldon de “Big bang theory” com Charles Foster Kane”. rá! muito massa. uma das coisas mais legais que já li nos últimos meses. muito, muito, muito bom, dani. parabéns mesmo.
A frase do filme que mais mexeu com a minha cabeça foi a analogia da própria história. “Você já viu a foto de algum pescador com 14 trutas?”. Todo mundo quer um marlim de mil quilos (embora a maioria fique apenas nas 14 trutas), mas a impressão que fica é que o Mark tá atrás de Moby Dick. Assim como aparece no primeiro diálogo do filme, o tema pra mim gira em torno da diferença entre obstinação e obsessão.
[…] escreveu “A Rede Social” e aqui mais uma vez dá mostras de seus diálogos rápidos e cortantes ditos por personagens […]