O Foo Fighter que eu não sou

Maldito cabelo.

Nossa avaliação

Em 1999, quando eu tinha 15 anos, o que mais queria na vida era ter cabelo grande (e bom) como o do Dave Grohl. Porque se eu tivesse aquele cabelo, ou o do Eddie Vedder, poderia pular e balançar a cabeça como um true rocker – ou ao menos me passar por um – sem parecer completamente ridículo. E as meninas iam querer fazer sexo comigo. E a vida seria perfeita.

Mas eu não tinha. Meu cabelo era ruim e curto. Meu rosto era um canteiro de espinhas. E ninguém queria fazer sexo comigo. Acima de tudo, eu não era o Dave Grohl porque nunca fui aquele cara engraçado zoador-porém-legal, com um magnetismo palhaço, de quem todo mundo gosta de estar ao redor porque anima a festa. Meu humor sempre foi estranho e antissocial, um Chandler à beira do Asperger.

Então, o Foo Fighters era o som que eu curtia sozinho, trancado no meu quarto, gritando e batendo-cabeça escondido pra ninguém rir do quão ridículo devia parecer. Porque a banda não se encaixava em nada no perfil do que eu gostava musicalmente na época – até hoje, é o rock mais “pesado” que “consigo” escutar.

Maldito cabelo.

E isso ficou bem claro pra mim na sexta-feira, enquanto assistia a “Back and forth”, o documentário sobre a banda: o Foo Fighters é minha zona negativa. É a síntese de várias coisas que eu não sou. Em alguns casos, de características diametralmente opostas às minhas. E é provavelmente por isso que gosto tanto deles. Consigo facilmente perceber traços meus que encontram nas minhas bandas favoritas um porto-espelho seguro. A melancolia alcoólica do Strokes, os ressentimentos mal resolvidos da Alanis, a ironia ácida do Franz… mas não no Foo Fighters.

“Back and forth” é um documentário bem padrão que narra a trajetória do grupo, desde o fim do Nirvana até a gravação do último álbum, Wasting light. Tem alguns momentos que vão deixar fãs mais ardorosos à beira do orgasmo, como uma cena dos caras tocando “My hero” pela primeira vez, três dias após terem composto a música, mas… nada demais. Fora isso, é aquela velha história do “fulano saiu, cicrano entrou, porque saiu, porque brigou etc”, comum a tantas outras bandas.

É nesse entra-e-sai que o filme do diretor James Moll mostra como é difícil ser uma banda de rock. Ou administrar uma (ao menos uma que faça sucesso). E é aí que “Back and forth” se torna meio um “A rede social” musical, com Dave Grohl servindo como Mark Zuckerberg – mero babaca ou um gênio que sabia o que devia fazer para a coisa dar certo?

E foi vendo Grohl tomar as decisões difíceis que me dei conta do quanto não sou ele. E, consequentemente, dos motivos pelos quais eu sou um jornalista medíocre, sem nenhuma grande realização (com uma carreira mais sem rumo que a da Jennifer Aniston).

Eu nunca soube separar trabalho e amizade. E claro, sempre trabalhei com meus amigos. Mantê-los sempre pareceu uma prioridade maior que crescer, arriscar (ironia ou não, acabei indo à sessão de “Back and forth” sozinho). Os confrontos que nunca banquei, os gritos que nunca dei, os sapos que engoli, a raiva que nunca expressei… eu boto pra fora através dos gritos de Grohl.

Quando o baixista Nate Mendel descreve seu desespero na época em que o baterista Taylor Hawkins se juntou à banda porque ele não daria conta de “dois palhaços” juntos, juro que senti uma certa identificação com (claramente) a personalidade submissa da banda. Me trancar no meu quarto e urrar “One of these days”, “Best of you” ou “Halo” é minha forma de extravasar a raiva e a agressividade que me faltam na vida (meus pais sempre gritaram muito, então a última coisa que você vai me ver fazendo é levantar a voz para resolver uma situação).

É por isso que meus olhos marejaram quando Grohl comentou que em “Ain’t it the life” (uma das minhas faixas favoritas de There’s nothing left to lose), ele fez inconscientemente uma lista das coisas que esperava da vida e que não deram certo. Porque, mesmo diferentes, ele entende o que é querer uma coisa e ver a vida se transformar em outra. Zona negativa ou não, o Foo Fighters é uma parte de mim também.

E é por isso também que ir à sessão na sexta (e ganhar um ingresso de uma moça loira FANTÁSTICA que, quando morrer, vai para um céu de shows de rock ótimos ininterruptos e Heineken liberada por toda a eternidade) e cantar junto todas aquelas músicas que eu nunca escreveria me fez tão bem. Assim como voltar pra casa, sozinho, à pé, às 3h da madrugada, com “ain’t it the life, ain’t it the life, ain’t it the life, got no crime, just sail on by” tocando na minha cabeça…


11 respostas para “O Foo Fighter que eu não sou”

  1. Pare de lamber meu ovo e mecha-se! Que texto mais escroto e sem sentido! Cadê o final ? Grande jornalista de merda, como você se auto definiu …

  2. Daniel, não sei se você vai ler esse comentário, mas espero que sim. Cara, parabéns pelo trabalho! Que texto incrível! É muito bom quando um texto consegue passar informação e sentimento ao mesmo tempo e você fez isso muito bem. Que saudade dos meus “vinte anos de boy”, parafraseando Zé. =D

    Parabéns mesmo, cara. Inclusive, tu me inspirasse a escrever um post no meu blog sobre as características minhas presentes nas minhas bandas favoritas. Nunca tinha parado pra pensar nisso.

    Enfim, inspirador demais teu texto!

  3. Ei, Eric. Claro que eu vou ler o comentário. Muito obrigado pelas palavras gentis e, acima de tudo, muito obrigado por ler! Procurei no teu (hehe, sotaque maravilhoso de Recife) blog o texto que você citou, mas não encontrei. Depois manda o link aí =) Grande abraço e, mais uma vez, obrigado pelo apoio!

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