Gonzaga – de pai pra filho


Nossa avaliação

[xrr rating=2.5/5]

Há pouco mais de dois meses, quando escrevi sobre o longa anterior de Breno Silveira, “À beira do caminho”, defendi o diretor como um dos poucos que fazem Filme de verdade no país, e não novela em película. Pois é Só Pra Contrariar (PIRES, 1994) que este “Gonzaga – de pai pra filho” incorre em vários dos vícios do cinema brasileiro contemporâneo – entre eles, sim, o ranço de novelão.

A história é a do Luiz Gonzaga pai, que saiu do sertão pernambucano fugindo de um amor impossível para encontrar sucesso e um semiamor trágico no Rio, resultando em uma relação problemática com o Luiz Gonzaga filho. A abordagem é a da cinebiografia de melhores momentos – abrangente, mas episódica – e Silveira e a roteirista Patrícia Andrade tentam usar essa relação pai-filho como o eixo central do longa. O excesso de eventos episódicos, porém, e a falta de um subtexto que dê força a essa espinha dorsal denunciam a principal falha do filme: ele não sabe qual história quer contar. Falta o recorte mais específico das boas cinebiografias que usam um período específico como retrato de quem foi seu protagonista.

O começo do longa, cheio de “inícios” (a história só engrena mesmo quando o pai resolve contar sua história para o filho), é um sintoma disso. Assim como os “causos” de como Gonzagão encontrou os dois lendários membros de sua banda – Salário Mínimo e Custo de Vida – ou se livrou de ir pro campo de batalha quando esteve no exército. São memórias importantes, mas que parecem deslocados do todo desconjuntado do filme.

Não, esse não é o Gonzaguinha, e sim o Julio Andrade de "Cão sem dono" (!)

Esse tipo de episódio lembra mais um documentário musical, gênero que tem se tornado quase um clichê do cinema contemporâneo nacional. A inclusão de fotos e imagens reais no meio do longa, bem como a narração em off (redundante e desnecessária) de Gonzagão, ressaltam esse aspecto. Silveira quebra a quarta parede, mas como aconteceu no fraco ato final do bom “2 filhos de Francisco”, isso denota mais uma deficiência do que um recurso narrativo.

Junte-se a isso letreiros insistentes (que repetem informações já ditas no diálogo e na narração em off) e Silveira comete o pecado capital de não só não confiar no seu taco – mas também não confiar na inteligência do espectador. Mesmo o maior trunfo do diretor – seu talento para escalar desconhecidos e dirigir seu elenco – é sabotado por uma direção de fotografia fraca. A câmera de Adrian Teijido não pulsa com o drama nas cenas-chave do longa – como quando Gonzaguinha confronta seu pai pelos repetidos abandonos de que foi vítima – permanecendo fixa, televisiva, deixando de acompanhar o vigor da performance dos atores.

Com isso e os diálogos expositivos, as cenas mais longas que o necessário e a ótima direção de arte, “Gonzaga – de pai pra filho” parece uma minissérie global. Mais “Chiquinha Gonzaga” (sem trocadilhos infames) do que “2 filhos de Francisco”. E essa comparação desonrosa é ao mesmo tempo mérito e demérito de seu diretor.


3 respostas para “Gonzaga – de pai pra filho”

  1. Ontem, na cabine de Diário de um Banana, surgiu a discussão sobre o filme, e fui o único a defender essa posição, igual à sua. Pensei estar sozinho. Todos estão amando, alguns cegamente.

    E sobre a questão televisiva, bem, até a própria distribuidora já divulgou, via Twitter, que o filme será lançado em janeiro como microssérie na Globo. Daqui a pouco mais de 2 meses! Bem apropriado.

  2. Daniel querido, o filme é tão bonito, sofrido e emocionante. Pode até ser que ele deixe algumas pontas soltas, mas o Breno é de uma sensibilidade tocante. Não discordo totalmente da sua análise, mas me apego à história que achei bem tocante.

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