007 – Operação Skyfall


Nossa avaliação

[xrr rating=4/5]

Não sei dizer se “007 – Operação Skyfall” é o melhor filme da franquia estrelada pelo agente nada secreto James Bond. Após 23 produções e seis intérpretes diferentes, fica difícil acionar a memória para fazer algum tipo de comparação, mas não há dúvidas de que a nova produção está entre os melhores exemplares da série.

A mudança de tom iniciada com “Cassino Royale” e que se perdeu e ficou confusa em “Quantum of Solace” finalmente diz a que veio: 007 mais do que nunca é um personagem inserido no nosso mundo, capaz sim, de proezas absurdas, mas habitante do nosso planeta, assim como Jason Bourne ou Ethan Hunt. Os puristas podem gritar: o realismo não faz Bond deixar de ser Bond? Sim e não.

Parte do charme de “Operação Skyfall” é perceber todas as características típicas do personagem lá, mas de outra maneira (algumas ainda se formando). Assim, o martini “batido, não mexido” aparece sem que a famosa frase seja dita, os vilões exagerados megalomaníacos ganham seu embrião e o 007 de Daniel Craig está mais pegador do que nunca. Isso tudo assentado em uma trama que busca discutir o papel da espionagem em um mundo globalizado, onde os países são amigos e o perigo não tem bandeira. Em uma história que parece ter realmente saído de algum “Missão: Impossível” ou da franquia Bourne, Bond precisa descobrir quem está por trás do roubo de uma lista de agentes do governo disfarçados em células terroristas para impedir que eles sejam expostos. Mas a premissa é o que menos importa: a julgar por todas as silhuetas e reflexos que o diretor Sam Mendes insiste em mostrar, o filme é sobre identidade. Afinal, quem é James Bond?

O passado do personagem é então a grande estrela de “Operação Skyfall”. Não apenas com relação à biografia do Bond que vemos na tela, mas também do ícone que completa 50 anos de idade. O filme busca ao mesmo tempo trazer 007 para o mundo moderno e também fazer a ponte com as obras clássicas. Nesse sentido, trata-se de uma espécie de “A Vingança dos Sith” em sua preocupação em trazer novidades ao mesmo tempo em que nos prepara para um futuro que já conhecemos.

Todo o início funciona muito bem como continuação direta dos outros filmes estrelados por Craig. Até que entra em cena Javier Bardem. Seu vilão desestabiliza o clima criado até então e com seu humor afetado puxa “Operação Skyfall” rumo às aventuras com Sean Connery e Roger Moore. A interpretação de Bardem parece estudada na medida para unir os dois mundos de Bond, fazendo a transição do thriller político de espionagem (com muito falatório e poucas explosões) para a ação exagerada que inclusive coloca 007 frente a um de seus maiores desafios: o metrô lotado.

Mendes conduz tudo com uma elegância que casa bem com o personagem, abusando das sombras (na belíssima fotografia de Roger Deakins) e de um tom um pouco mais sombrio para passar sua mensagem sobre o papel que homens como James Bond ainda têm a desempenhar no nosso mundo. Se soa imperialista e chauvinista é porque esta é a própria essência do personagem (apesar de sua fragilidade física no filme refletir a atual perda de poder das grandes potências), que aqui aprendemos a compreender um pouco mais .

Mesmo apresentando um ou outro furo na história que tem mais a ver com a nossa não-suspensão da descrença e de faltar aquela cena de ação que empolga de verdade, “Operação Skyfall” traz nostalgia, tensão genuína e muitas surpresas, sendo a inspiração em “Esqueceram de Mim” apenas a mais inusitada delas. Pois por mais estranho que seja escrever isso sobre um blockbuster de uma série conhecida pela aventura desenfreada, o filme é sobre os personagens. Suas escolhas, medos, falhas e méritos. E se Craig está mais à vontade do que nunca no papel principal, Judi Dench é praticamente uma co-protagonista, enquanto todo o elenco de apoio faz bem o seu trabalho (apesar de que é Bardem quem vai realmente grudar na sua memória).

A tradicional imagem da mira que persegue Bond (e que abre os outros filmes) aparecer apenas ao final diz tudo: o que vimos foi só um prólogo. As aventuras do agente cinquentão estão apenas começando. Ainda bem.


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