Curvas da Vida


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

No lugar da tendência abominável de dublar filmes estrangeiros que tem invadido os cinemas nacionais, deviam encontrar uma forma de adaptar todos os filmes sobre beisebol para o futebol (ou o vôlei) quando chegassem ao Brasil. Entender as metáforas, jogadas e duplos sentidos perdidos em vários dos diálogos – ou mesmo no placar dos resultados – ajudaria bastante a apreciação deste “Curvas da vida”, drama familiar inofensivo e um tanto insosso.

Clint Eastwood interpreta o mesmo papel que tem vivido (na frente das câmeras e fora delas) pelos últimos 10 ou 15 anos: o do homem branco velho zangado. Desta vez o nome dele é Gus, um olheiro de beisebol veterano, ameaçado por um glaucoma e pela nova geração que acredita que se aprende tudo com computadores e na “interweb” (sic). Ele é basicamente um daqueles caras que brigava com Brad Pitt em “O homem que mudou o jogo”, do qual “Curvas da vida” é uma imagem espelhada. Amy Adams é Mickey, a filha negligenciada que vai servir de olhos para o pai em uma incursão que pode determinar a aposentadoria dele, e acaba confrontando o velho sobre fantasmas do passado.

Senilidade: Eastwood afoga a vitória de Obama na boquinha da garrafa.

Eastwood se resume a grunhir suas falas e amaldiçoar o universo pela velhice e todo o revisionismo e a humilhação que vêm com ela. Já Justin Timberlake está vergonhoso e deslocado no desnecessário papel do interesse amoroso. Com isso, Adams se torna o verdadeiro centro emocional do longa, interpretando uma advogada endurecida por um pai austero que a criou no meio de homens e esporte. “Curvas da vida” é um filme que coça o saco, cospe no chão e bebe cerveja quente – e é por encarar tudo isso de igual pra igual, e ainda assim manter-se graciosa, que a atriz é a sua MVP. Não por acaso, aceitar ou não uma repentina mudança de motivação que Mickey sofre no terceiro ato é fundamental para comprar as reviravoltas do final poliana em que “tudo dá errado, mas tudo dá certo”.

O diretor Robert Lorenz, ex-assistente e produtor de Eastwood, limita-se a copiar o estilão clássico e sem firulas do veterano, ainda que sem a elegância visual de seus melhores filmes. O plano-e-contra-plano pouco criativo cansa em algumas sequências e o apelo melodramático da trilha musical lembra o trabalho recente do cineasta. Some-se a isso a escola “Dirty Harry” de roteiro, em que quem é bom é muito bom e quem é ruim é péssimo – e deixa isso BEM claro em diálogos nada sutis (vide o desprezível rebatedor que Gus deve avaliar) – e tudo fica bem previsível, em tons de preto-e-branco que trazem muito pouco de novidade ao gênero.

“Curvas da vida” é um filme para seu pai. Ou avô. Para o sujeito velho e branco que acredita que, não importa quantos “homens mudem o jogo”, algumas coisas devem permanecer as mesmas. Que Eastwood deve ser sempre Eastwood. E ponto final. Alguns chamam isso de tradição. Outros, de senilidade.


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