[xrr rating=2.5/5]
Algumas resenhas são como brincar de Jogo dos 7 erros. Você olha para a figura toda e é tanta coisa dando errado ao mesmo tempo que é difícil apontar onde a receita desandou de vez. Acredito que no caso de “72 horas”, esse ponto tenha sido a escalação de Elizabeth Banks. A personagem dela – Lara Brennan, acusada e condenada de matar a chefe – é essencial para o filme, além de ser seu maior trunfo. Para que compremos a trama rocambolesca, é preciso que Lara seja:
1- excepcionalmente sedutora e conquiste o público a ponto de ele entender o amor incondicional que fará o marido John (Crowe) vender sua alma (junto com a dignidade, princípios, amor próprio…) para tirá-la da prisão;
2- e ao mesmo tempo perigosamente ambígua, sustentando a tensão do “será que ela matou ou não” que eleva o filme acima do dramalhão televisivo.
Com essas duas características, a personagem deveria ter sido interpretada por uma atriz do calibre de Rachel Weisz ou Naomi Watts. Para o infortúnio do longa do diretor Paul Haggis, ela foi parar nas mãos de Banks, que entrega uma das piores performances do ano. Em meio à tensão e ao turbilhão de emoções fortes por que Lara passa, a atriz permanece 99% do filme com uma expressão inerte como alguém que foi mandado ao supermercado para comprar cereal – só que não gosta, não queria comprar nem se importa com o cereal e fica parado olhando pra prateleira (não) escolhendo qual levar.
Como ela e Crowe não têm química nenhuma, é impossível acreditar ou se importar com aquele casamento e, consequentemente, com a descida até o inferno de John. Para piorar, a primeira metade do filme é dominada por um “manual de procedimentos ilícitos para tirar alguém da cadeia” arrastado e insuportavelmente tedioso. A edição só abandona um pouco o procedural televisivo e o filme ganha certo ritmo no ato final. Quando Haggis apela para o que sabe fazer melhor, criar suspenses de arrancar as unhas, seu talento é inegável.
Não há problema algum com o estilo de melodrama praticado por ele, desde que exista realmente um drama que faça toda a “caixa de ferramentas” do gênero valer a pena. Mas esgotadas as montagens paralelas, quando o longa volta para seu centro emocional – a família Brennan – o cineasta é obrigado a recorrer a uma trilha musical emotiva, exagerada e deslocada para compensar as atuações ruins e sua direção falha. E como cereja (estragada) no topo do bolo (vencido), o roteiro ainda tenta mastigar tudo para o espectador nos minutos finais, eliminando qualquer sutileza e ambigüidade que davam nuances morais à história.
Some ainda uma aparição gratuita e vergonhosa de Liam Neeson como mentor do protagonista (se não se cuidar, Crowe também vai imitar a derrocada de Neeson na vida real) e “72 horas” é o pior trabalho de Haggis tanto na direção quanto no roteiro. Parece que a praga jogada pelos detratores de “Crash” finalmente pegou.
2 respostas para “72 horas”
Não sei, mas acho exagero dizer que o Liam Neeson vive uma derrocata… está certo que ele não tem feito nenhum A Lista de Schindler, mas ainda faz papéis de alguma relevância. O primeiro Batman foi um sucesso e um bom filme, e Busca Implacável teve uma boa arrecadação. E, se for olhar, grandes atores chegam nessa idade e fazem filmes menores ou ruins mesmo (De Niro e Hoffman, que já fizeram Taxi Driver e Rain Man, hoje fazem uma bobagem como Entrando numa fria; Jack Nicholson fez O Iluminado e Um estranho no ninho, hoje se contenta com Tratamento de Choque; e Al Pacino, que já teve atuações maravilhosas em grandes filmes, agora protagoniza cada filme fraco…)