The Town (2010) | |
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Direção: Ben Affleck Elenco: Ben Affleck, Rebecca Hall, Jon Hamm, Jeremy Renner |
Quando eu era criança, minha vó, a pessoa mais sábia que já conheci, uma vez me disse:
– Se você não consegue chutar a bola, é porque talvez deva bater nela com a mão.
Ben Affleck deve ter ouvido algo parecido. Depois de anos batendo cabeça como ator medíocre, o astro parece ter se encontrado como diretor, entregando filmes infinitamente melhores do que aqueles em que atuava, como este “Atração perigosa”.
Mesmo não sendo tão boa quanto “Medo da verdade”, estreia de Affleck na direção, a história do ladrão Doug (o próprio Affleck) que se envolve com Claire (Hall), gerente de um dos bancos que ele assaltou, deixa bem claros alguns dos méritos do novo cineasta. Passada na mesma periferia pobre de Boston do longa anterior (não por acaso, a cidade natal do ator-diretor), a produção extrai das locações, dos figurinos e de detalhes mínimos como cortes de cabelo, um estilo e uma autenticidade que complementam a mise en scène ainda em formação de Affleck.
As sequências de ação não são nenhum Bourne, mas são decentes. E ao mesmo tempo em que o filme ganha pontos por investir quase toda sua primeira metade no tecer lento e artesanal da trama, o foco excessivo (ego?) no protagonista Doug impede que os outros personagens se desenvolvam melhor. Affleck contorna isso com um elenco bem escalado – com destaque para Rebecca Hall, como Claire, e o ótimo Jeremy Renner, como o psycho Jem, que rendem o máximo de cada minuto em cena.
Já Jon Hamm esbarra no obcecado Frawley, um agente do FBI sem profundidade nenhuma, simplesmente desligando o charme e acionando a arrogância-lado-negro de Don Draper. Some ainda o fato de que seu parceiro é o maligno Smokey de “Lost” e fica quase impossível para o público não torcer por Doug, por mais erradas que suas escolhas possam ser.
Como ator que é, Affleck dirige para seu elenco, exagerando na duração de algumas cenas, o que compromete o ritmo do filme (mesmo problema de que padecia “Medo da verdade”). Um encontro entre Frawley e a personagem de Blake Lively em um hospital poderia facilmente ser cortado. Já a visita de Doug ao pai (um esplêndido Chris Cooper) na cadeia vai pro portfólio do neodiretor como o melhor momento do longa.
Mesmo com seus defeitos, quando “Atração perigosa” engrena na segunda metade é quase impossível desgrudar o olho da tela. Affleck deixa o público em suspenso, sem ideia de qual será o desfecho da história, prova de sua competência como narrador. Que ele ainda tem muito o que aprender é fato. Mas desde que sua carreira de crimes se limite ao roubo à mão armada, e não a atentados contra o cinema como “Contato de risco”, declaramos aqui nosso voto de confiança ao diretor Ben Affleck.
6 respostas para “Atração perigosa”
O filme realmente é muito bom. Provavelmente algum ator será indicado ao Oscar por ele.
Só acho que o Daniel esqueceu de comentar na crítica que o Ben Affleck realmente atua muito bem como protagonista. Leva o filme nas costas numa boa.
Momento #egofeelings: eu estava em Boston quando o filme estava sendo gravado.
Ei, Nessim! Nem achei o Affleck isso tudo… não compromete, mas não chega perto de ser uma GRANDE atuação. Por isso, não achei que valesse a pena mencionar no texto. Gostei mais do Renner e da Hall mesmo. E sem esnobar, please.