O Espetacular Homem-Aranha


Nossa avaliação

[xrr rating=3/5]

Eu aprendi a ler com os quadrinhos do Homem-Aranha. Isso já seria suficiente para justificá-lo como o meu super-herói favorito, mas há mais por trás do fascínio que o personagem exerce.  A inovação de Stan Lee e Steve Dikto em 1962 foi mostrar pela primeira vez um herói dos quadrinhos que era também leitor de quadrinhos. Peter Parker é o garoto mirrado, o menino comum que podia ser eu, você ou aquele rapaz tímido do colégio com o qual nunca conversamos. Ele não veio enviado de outro planeta, não nasceu com alguma mutação genética e muito menos é um herdeiro bilionário. É um menino normal que por acaso foi picado por uma aranha radioativa. Aconteceu com ele, mas podia ter acontecido com qualquer outra pessoa. Qualquer um tinha a chance de se tornar um herói. Este aspecto fundamental da identidade do personagem se perde em “O Espetacular Homem-Aranha”.

A trama do filme, buscando se afastar um pouco do original de 2002 dirigido por Sam Raimi, vai atrás da misteriosa história dos pais de Peter (que se estende até a inevitável cena durante os créditos). O enredo busca então amarrar todos os acontecimentos e personagens em uma (desculpe o trocadilho) teia de relações que até faz sentido, mas enfraquece o Homem-Aranha como um herói fruto do acaso. Peter Parker é agora quase um “escolhido”, alguém destinado a grandes feitos devido ao passado de seus pais. Ele não pode mais ser qualquer um, e a identificação com o público é abalada por isso.

Mas tudo seria perdoado se a nova abordagem funcionasse dentro da proposta de atualização e realismo da história (a impressão é de que o filme queria ser um “Batman Begins” ou “X-Men: Primeira Classe“). Pena que isso não acontece. O roteiro de James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves não consegue escapar do tédio de contar a mesma origem de novo, e aspectos importantes da mitologia do personagem como a morte do tio ou a descoberta dos poderes perdem em emoção na comparação com o primeiro filme. Além disso, a atualização de Peter como um nerd moderno – apesar de bem intencionada (Raimi preferia o patético, enquanto Webb opta pelo pária, o que é ótimo) – tira toda a força do personagem como outsider: o geek pop de hoje não é mais excluído, algo que seria fundamental para explicar sua “libertação” por trás da máscara do Homem-Aranha, quando extravasa toda a sua opressão.

O mundo sem cores de Peter Parker.

O vilão também é um problema. O Lagarto (Ifans) carece de personalidade e sua inclusão na tal teia de acontecimentos na vida do personagem principal deixa tudo mais confuso, sem que consiga provocar temor ou pena. Aliás, a forma abrupta com que o filme busca resolver os arcos construídos na primeira parte da história é uma consequência direta desta escolha por interligações baseadas em coincidências e “destino”, como se existisse um grupinho freak de conhecidos em Nova York.

Dito isso, “O Espetacular Homem-Aranha” está longe de ser um desastre. Marc Webb é criativo (apesar de parecer um pouco engolido pela máquina e fazendo um filme na maioria do tempo burocrático) e consegue trazer mais juventude e romance para a história, apesar de não conseguir nenhum grande momento como o beijo do herói com Mary Jane no original. As cenas de ação são puro MacFarlane (o herói nunca foi tão ágil) e os lançadores de teia são tão cool quanto você sempre imaginou que seriam. Apesar de perder na comparação com os dois primeiros filmes (é melhor do que o terceiro dirigido por Raimi, mas aí também é fácil), “O Espetacular Homem-Aranha” tem um trunfo indiscutível: Andrew Garfield e Emma Stone.

Garfield parece saído diretamente dos quadrinhos e é melhor Peter Parker do que Tobey Maguire. Já Stone é a Gwen Stacy pela qual todos os leitores se apaixonaram um dia. A química entre os dois é mágica e Webb faz o que sabe melhor ao contar este romance. Enquanto Mary Jane se interessava pelo Homem-Aranha , Gwen se interessa por Peter. Esta sutil diferença estabelece toda a mudança do filme para a trilogia anterior.

Pois apesar do título, “O Espetacular Homem-Aranha” é sobre Peter Parker. Isso fica claro na quantidade de vezes em que o herói aparece sem máscara ou no tanto que sua identidade não é tão secreta. Colocando o garoto em primeiro plano e deixando o herói em segundo, o filme perde em humor e fantasia e ganha em melancolia. Porque se o Homem-Aranha é colorido e alegre, Peter Parker é trágico e triste. E Garfield carrega no olhar uma dor que só desaparece quando vê Gwen Stacy. Nestes breves momentos, “O Espetacular Homem-Aranha” nos lembra que aquele garoto tímido podia ser qualquer um. E que mesmo se dependurando de um lado para o outro nos arranha-céus de Nova York, ele é só mais um cara apaixonado e sozinho.

Eu já contei que o Homem-Aranha é o meu herói favorito?


5 respostas para “O Espetacular Homem-Aranha”

  1. Bem,

    Eu comecei minha incursão nos quadrinhos através do Espetacular Homem-Aranha no formatinho da abril lá por volta de 96-97, daí pra frente já revisitei a década de 60, 70 e 80 e ultimamente tenho prendido o fôlego e me esforçado pra ler as ultimas porcarias que a casa das ideias tenta forçar goela à baixo de seus leais leitores. Essa adaptação não me impressionou, senti um filme pouco fluido, com uma continuidade forçado e uma presença do “destino” pesada demais. Sam raimi foi muito melhor nas adaptações, com ressalva para o par romântico onde a Emma dá um baile e tanto na Mary Jane… Resumindo, eu sinto que esse filme é um ótima adaptação do há de errado na Marvel impressa atual, muito maneirismo, ação a toa, roteiros fracos e uma necessidade de inserção de um universo “Hype” e “Geek” que empobrece e descaracteriza clássicos da arte sequencial!

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