Pilulista Cinema – Os melhores filmes de 2010


Nossa avaliação

Crescer dói. Sair da nossa zona de conforto e encarar a realidade de que nem sempre (ou quase nunca) o universo funciona exatamente do jeito que queremos é um processo tão necessário quanto sofrido. Mas é o que nos leva a descobrir quem nós somos e qual o nosso lugar no mundo.

Ao olhar para a Pilulista dos 10 melhores filmes de 2010 segundo equipe e colaboradores do Pílula Pop, esse parece ser o tema comum a todas as produções. Identidade e solidão são questões que permeiam uma seleção eclética de dois blockbusters, três hypes jovens essencialmente contemporâneos, duas animações e a incursão de dois mestres pelo cinema de gênero. Como permanecer fiel a si mesmo, sem ao mesmo tempo se estagnar? Como mudar e amadurecer sem ficar sozinho – seja com a ajuda de uma amizade à distância, próxima, um amor atemporal, (a ideia de) uma família…?

Nos no Pílula não estamos sozinhos. Ou não queremos estar. É por isso que convidamos 12 amigos-votantes (cujas listas individuais você confere aqui) para comporem nossa Academia de Artes e Popices Cinematográficas. Eles votaram em 37 longas – 20 a menos que no ano passado, reflexo da diminuição significativa da estreia de filmes no circuito belorizontino. Destaque para “Onde vivem os monstros”, que ficou a 1 ponto do Top 10; além de “Kick Ass” que, sem trocadilhos, lutou heroicamente para entrar; e “As melhores coisas do mundo” que quase foi o segundo nacional – algo inédito – na lista.

Sem mais delongas, confira nosso Top 10 aí embaixo. E obrigado pela leitura e pela companhia em 2010, enquanto a gente fez de tudo aqui pra melhorar – e crescer. Esperamos mais mudanças e aprimoramento em 2011 – com a sua ajuda e de todos que votaram na nossa lista, a quem devemos a existência do Pílula. Valeu pela amizade e até 2011 com mais bons filmes.

10º Amor sem escalas (Up in the air, EUA, 2009, dir. Jason Reitman)
“Being your own one and only is a dirty selfish trick”

Mesmo tendo estreado bem no início de janeiro, o filme do diretor Jason Reitman marcou cinco de nossos colaboradores, que se lembraram dele em seus votos. A precisão formalista da direção, o trabalho impecável de George Clooney, Vera Farmiga e Anna Kendrick e a melancolia da trilha sonora compõem uma trifeta que emociona e nos faz pensar sobre quem somos – e quem (ou o que) cultivamos. “Amor sem escalas” é uma das produções mais subestimadamente inteligentes a estrear nos cinemas nos últimos anos e sua beleza estética não superficializa isso. Pelo contrário, ela funciona em favor da história narrada por Reitman, um diretor que queremos acompanhar por muitos e muitos anos.

O escritor fantasma (The ghost writer, França/Alemanha/Reino Unido, 2010, dir. Roman Polanski)
“Mais uma vez, o paralelo é inevitável.”

Pouquíssimos filmes podem disputar com “O escritor fantasma” o título de melhor direção em 2010. A ambientação, a (não) utilização de cores, a manipulação de informações e o ritmo ditado pela trilha de Alexandre Desplat (a melhor do ano, na singela opinião deste que vos escreve) são obra de um talento que não se aprende. Há quem chame de estilo (ou você tem, ou…). Mas o filme não é pura forma. Polanski arquiteta isso tudo para nos mostrar que existe muito mais por trás daquilo que queremos julgar e condenar. Por trás do que acreditamos saber. Na verdade, não sabemos nada. E o cineasta polonês, o único representante europeu no nosso Top 2010, dá uma aula a que seis de nossos membros assistiram sem piscar.

Ilha do medo (Shutter island, EUA, 2010, dir. Martin Scorsese)
“Um protagonista complexo em crise consigo mesmo + paranoia + metalinguagem. Isso é Scorsese.”

Há quem vá questionar a presença de Polanski & Scorsese tão aqui embaixo na nossa lista. Mas fato é que eles fazem um belo par lado a lado – que, independente de colocação, me dá orgulho de nossa Academia. Agora, Scorsese: sou suspeito pra falar do cara… especialmente adaptando um livro do qual também sou fã. Lembrado por seis votantes, “Ilha do medo” é uma experiência. É um pesadelo ao qual você precisa se entregar para apreciar por completo. Se você se colocar nas mãos do Mestre Martin e deixar-se levar por aquele presídio, vai sair do outro lado exausto. Mas terá visto o que é usar cor e edição para materializar uma psique absolutamente perturbada. Uma das melhores atuações da carreira de DiCaprio. E uma das cenas mais tristes de 2010, passada à beira de um lago. “Ilha do medo”, livro e filme, é um exercício de gênero até não ser mais. E é aí que ele despedaça suas crenças (e seu coração) em frangalhos.

Mary & Max – Uma amizade diferente (Austrália, 2009, dir. Adam Elliot)
“All the lonely people, where do they all come from? All the lonely people, where do they all belong?”

“Mary & Max” é meu filme favorito de 2010. Seus personagens, sua história, seu poder ficaram comigo por semanas, meses, após a sessão. Ainda agora, quando escrevo isso – ou quando fiz meu Top 10 – a amizade, inspirada em um relacionamento real do diretor australiano Adam Elliot com uma nova-iorquina, me emociona. Pensar no quanto esses dois significaram e o quanto eles mudaram a vida um do outro, para mim, é… algo transcendente – com o perdão do hiperbolismo. Mas é. Que Elliot consiga expressar isso em uma animação tão simples, tão direta, com tão poucos recursos é a prova de que não se precisa de muita coisa para fazer um filme poderoso – basta talento e uma boa história para contar. “Mary & Max” é exemplo de que cinema é algo mais do que meras imagens. Renato Silveira, Filipe Isensee e mais dois de nossos colaboradores (ainda que em parte) devem concordar.

Toy Story 3 (EUA, 2010, dir. Lee Unkrich)
“Crescer é perder pequenos pedaços de si mesmo e substituí-los à medida que você descobre como montar o quebra-cabeça de quem você é.”

Seguindo o estilo “irmãos lado a lado” de nosso Top 2010, “Toy story 3” vem ser o companheiro ideal para “Mary & Max” aí em cima. E vale ressaltar: no terceiro ano em que fazemos nossa lista, a animação é a terceira da Pixar a marcar presença. Porque a Pixar é o melhor realizador cinematográfico em atividade no mercado hoje. E ponto. Não é por acaso que “Toy story 3” é a maior bilheteria do ano. Dizer dos méritos do longa de Lee Unkrich como entretenimento e como metáfora do amadurecimento é quase chover no molhado, já que praticamente todo mundo viu e se emocionou. Que o estúdio consiga tornar relevante o terceiro capítulo de uma saga– e talvez melhor que os dois primeiros – é a prova irrefutável do pacto de sangue que eles têm com a qualidade. Em termos de trilogia, provavelmente só “O retorno do rei” seria comparável. A gente não se cansa de reconhecer e, por garantia, vamos reservar desde já um lugar pra eles no nosso top do ano que vem.

Tropa de elite 2 (Brasil, 2010, dir. José Padilha)
“Cada país tem ‘O Poderoso Chefão’ que merece.”

É com grande prazer que damos as boas vindas de volta ao cinema nacional, depois de um ano de ausência na nossa lista. Não só porque é brasileiro, mas porque é Bom, com B maiúsculo. Além de toda a função política, a discussão necessária e seu insight pertinente em um ano eleitoral, “Tropa de elite 2” é cinema de primeiríssima qualidade. E o fato de que o longa reside agora, magnânimo, no topo das maiores bilheterias nacionais da história é um detalhe que nos deixa muito felizes – nem só de Trapalhões, Xuxa e espiritismo vive o blockbuster tupiniquim. Ao pintar o Guernica da incompetência política brasileira, José Padilha se afirma como um dos grandes cineastas do país. E, ao lado de um Wagner Moura beirando irritantemente a perfeição, deixa bem claro (para quem quiser ler) o que ele quer dizer (ou discutir) com sua saga corleônica, lembrada por nada menos que oito dos nossos 12 membros.

Scott Pilgrim contra o mundo (Scott Pilgrim vs. the world, EUA/Canadá/Reino Unido, 2010, dir. Edgar Wright)
“Nós somos o Sex Bob-omb e estamos aqui para fazer você pensar na morte e se sentir triste e talz.”

“Scott Pilgrim contra o mundo” foi citado em oito das nossas 12 listas. E apareceu muito bem colocado em pelo menos cinco delas. Na verdade, ele esteve no pódio por um bom tempo e só levou uma rasteira de um certo longa argentino nos 45 do segundo tempo. Isso, mesmo sem ter estreado em BH. Seu quarto lugar aqui, então, é nosso protesto semissilencioso. Porque ele é Scott Pilgrim. E essa é a Pilulista. E graaaande parte de quem votou no nosso top se identifica com algum (ou vários) dos personagens ali. Como escrevi na resenha, a história é o retrato exacerbado e idealizado da geração que faz e lê nosso site. E acima de tudo, o filme do diretor Edgar Wright é divertido, bem dirigido e tem uma trilha fuderosa. É por isso que “Scott Pilgrim contra o mundo” não poderia ficar de fora desse Top 10. E é com muito orgulho que a gente elege o longa o mascote oficial da nossa seleção 2010.

O segredo dos seus olhos (El secreto de sus ojos, Argentina/Espanha, 2009, dir. Juan José Campanella)
“I want so much to open your eyes ‘cause I need you to look into mine.”

E nuestros hermanos se deram bem mais uma vez. Depois de arrebatar o Oscar de filme estrangeiro (dando um 2 x 0 em nosotros), “O segredo dos seus olhos” superou “Tropa de elite 2” na preferência nacional e apareceu no pódio de quatro das nossas listas. O longa do diretor Juan José Campanella é um exercício clássico só superado neste ano (na minha opinião) por “O escritor fantasma” e “Ilha do medo”. Mas nossos votantes se apaixonaram por Ricardo Darín e sua paixão imortal, pela excelência técnica da realização e pela carpintaria do roteiro de Campanella, dando ao longa nossa medalha de bronze. “O segredo dos seus olhos” é daquelas obras clássicas capazes de agradar a gregos e troianos, que sonhamos que o cinema brasileiro faça (mais) algum dia. Enquanto isso não acontece, a gente pede pro Capitão Nascimento dar uma coça nos hermanos caso eles venham nos zoar.

A rede social (The social network, EUA, 2010, dir. David Fincher)
“Now our lives are changing fast. Hope that something pure can last”

Ok, “A rede social” já ganhou tantos prêmios desde que estreou poucos meses atrás (dê uma vasculhada no nosso plantão e fique estupefato), que nem precisava do nosso título. O que não quer dizer que ele não lutou com unhas e dentes. A disputa com o primeiro lugar aí embaixo foi pau a pau, com o longa de David Fincher dominando num primeiro momento pra perder num sprint final do adversário. Mas sem deméritos. Os dois filmes ficaram na dianteira com uma margem de mais de 20 pontos sobre os concorrentes, não sendo citados somente por dois votantes cada um. Melhor filme do ano em quatro listas e presente no pódio de outras três, “A rede social” já colecionou tantos elogios que é difícil acrescentar alguma coisa aqui. Ele é simplesmente… delicioso de assistir. Uma, duas, três vezes. Você não consegue desgrudar o olho da tela por duas horas e é realmente envolvido pela trama, ansioso por saber como vai terminar. Direção e roteiro impecáveis, atuações de primeira, trilha incrível, tema atualíssimo… “A rede social” merece tudo que vem colhendo. Inclusive nossa medalha de prata.

A origem (Inception, EUA, 2010, dir. Christopher Nolan)
“O blockbuster do homem moderno. Ah, se todos fossem como ele…”

84 pontos. 10 listas. Pódio em nove delas. “A origem” não foi um espetáculo só visual – foi um arrasa-quarteirão aqui no nosso parquinho também. Depois de assumir o topo no meio da votação, não largou mais e ganhou do resto de forma acachapante. O cinema-ópera de Christopher Nolan encantou os olhos, ouvidos e mentes dos nossos votantes – e de trocentos bilhões de pessoas ao redor do mundo. Orçamento monstruoso, grande elenco, sequências de ação de cair o queixo, locações exóticas, escopo épico. “A origem” é tudo que esperamos do cinema hollywoodiano – e quase nunca conseguimos. Se todos os blockbusters que invadem as salas o ano inteiro fossem bons assim, a gente ficaria aqui quietinho no nosso canto, satisfeito e sem reclamar. Mas isso provavelmente é sonho (dentro de um sonho, dentro de um…). Fenômeno pop, objeto de especulação global, parodiado, estudado, psicanalisado, discutido em botecos mundo afora. Nolan, DiCaprio & cia. merecem nosso topo: a eles, a medalha de ouro da Pilulista 2010.

Confira a lista de cada um de nossos colaboradores aqui.


6 respostas para “Pilulista Cinema – Os melhores filmes de 2010”

  1. Cadê o Pequeno Nicolau, hein? Tá faltando nesta lista

    E achei paia o Escritor Fantasma ficar atrás de Ilha do Medo.

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